Servir para Merecer
Finalizando as nossas atividades na noite de 4 de agosto de 1955, tivemos a
palavra do grande companheiro Antônio Gonçalves Batuíra, denodado pioneiro do
Espiritismo no Estado de São Paulo, que, de modo vibrante, nos convocou ao valor
moral para mais alto padrão de eficiência da nossa tarefa espírita.
Meus irmãos, que a divina bondade de Nosso Senhor Jesus - Cristo seja louvada.
Pedir é mais que natural, no entanto, é razoável saber o que pedimos.
Habitualmente trazemos para o Espiritismo a herança do menor esforço, haurida
nas confissões religiosas que nos viciaram a mente no culto externo excessivo,
necessitando, assim, porfiar energicamente para que a vocação do petitório
sistemático ceda lugar ao espírito de luta com que nos cabe aceitar os desafios
permanentes da vida.
No intercâmbio com as almas desencarnadas, procedentes da esfera que vos é mais
próxima, sois surpreendidos por todos os tipos de queda espiritual.
Sob tempestades de ódio e lágrimas, desesperação e arrependimento, consciências
culpadas ou entorpecidas vos oferecem o triste espetáculo da derrota interior a
que foram atiradas pelo próprio desleixo.
É que, soldados da evolução, esqueceram as armas do valor moral e da vontade
firme com que deveriam batalhar na Terra, na aquisição do próprio aprimoramento,
passando à condição parasitária daqueles que recebem dos outros sem darem de si
e acabando o estágio humano, à feição de fantasmas da hesitação e do medo, a se
transferirem dos grilhões da preguiça e da pusilanimidade à escravidão àquelas
Inteligências brutalizadas no crime que operam, conscientemente, nas sombras.
Levantemo-nos para viver como alunos dignos do educandário que nos recolhe!
Encarnados e desencarnados, unamo-nos no dinamismo do bem para situar, sempre
mais alto, a nossa oportunidade de elevação.
É inútil transmitir a outrem o dever que nos compete, porque o tempo inflexível
nos aguarda, exigindo-nos o tributo da experiência, sem o qual não nos será
possível avançar no progresso justo.
Todos possuímos escabroso pretérito por ressarcir, e, dos quadros vivos desse
passado delituoso, recolhemos compulsoriamente os reflexos de nossos laços
inferiores que, à maneira de raízes do nosso destino, projetam sobre nós escuras
reminiscências.
Todos temos aflições e dúvidas, inibições e dificuldades, e, sem elas,
certamente estaríamos na posição da criatura simples, mas selvagem e
primitivista, indefinidamente privada do benefício da escola.
Clareemos o cérebro no estudo renovador e limpemos o coração com o esmeril do
trabalho, e, então, compreenderemos que o Senhor nos emprestou os preciosos dons
que nos valorizam a existência, não para rendermos culto às facilidades sem
substância, engrossando a larga fileira dos pedinchões e preguiçosos
inveterados, mas sim para que sejamos dignos companheiros da luz, caminhando ao
encontro de seu amor e de sua sabedoria, com os nossos próprios pés.
Saibamos, assim, aprender a servir para merecer.
Batuira