Anjo de Luz

Disse o Homem chorando a Deus, um dia:
- Sofro, meu Pai, na Terra, amargamente,
Em toda parte, a dor triste e gemente
É um fantasma de sombra que me espia.

Vivo algemado à angústia da agonia...
Por que me deste o horrendo inferno à mente,
Sem fonte amiga que me dessedente,
Entre o sol calcinante e a noite fria?

E o Senhor respondeu-lhe: - Estás em treva,
Pela inconformação que te subleva,
Mas libertar-te-ei da férrea grade.

E, após chamá-lo à Glória Excelsa e Eleita,
Para guiar-lhe a senda escura e estreita,
Deu-lhe o Anjo de Luz da Caridade.


Anthero de Quental