Ela

Onde ela passa qual estrela,
Célere e luminosa,
Varrendo a escuridão da vida humana,
O carvão da miséria
Faz-se bendito lume,
Atraindo as mãos frias
De velhos e crianças
Que soluçam na sombra.

Onde ela passa docemente,
Por divina visto
Entre as campas do mundo,
Toda planta esmagada
Reverdece de nova
Ao brilho da esperança.

Onde ela passa generosa,
Sabre a lama da Terra,
Lírios brotam do charco,
Perfumados e puros,
Coma bênçãos do Céu
Projetadas no lodo.

Ninguém lhe ouviu jamais qualquer palavra
De azedia ou censura.

Apenas a vaidade muitas vezes
Lhe toma a retaguarda
E espalha o pessimismo
Nos corações, em torno,
Comentando, agressiva,
À torva indiferença
Dos que bebem a sós
O vinho da ilusão
E devoram cruéis,
O pão da mesa farta,
Dando sobras ao mofo,
Atolados na usura que a aura anestesia.

Ela passa, entretanto,
Nobre, serena e bela,
Em profundo silêncio,
Educando e servindo
Sem que ninguém lhe escute sequer o próprio hálito...
Porquanto, em tudo e em todos,
É sempre a Caridade — a Luz que veio de Deus.


Rodrigues de Abreu