Obedeçamos

Na noite de 5 de abril de 1956, um desajuste na instalação elétrica obrigou-nos a efetuar nossa reunião à luz de velas.

Todas as tarefas foram executadas normalmente, contudo, no horário das instruções, lamentamos a ausência da força para o serviço da gravadora de vozes.

Controlando o médium, nosso amigo espiritual André Luiz havia transmitido valioso síntese evangélica, sem que lhe pudéssemos registrar a palavra.

Encerradas as nossas atividades, lastimávamos a perda de que fôramos vítimas, contudo, qual aconteceu de outras vezes, o médium vê companheiros desencarnados trazendo-nos um aparelho gravador do Plano Espiritual. Toma, então, do lápis e, escutando a mensagem por eles mesmos arquivada, escreve sem pestanejar o comunicado que ouvimos, expressão por expressão, palavra por palavra.

Eis aqui a síntese a que nos referimos.


Meus amigos:

Companheiros existem que não se cansam de alegar incapacidade para o serviço do bem.

No entanto, o serviço do bem pertence, na Terra, a Nosso Senhor Jesus-Cristo e compete a nós outros a obrigação de nos afeiçoarmos a Ele, para sermos intérpretes de seu Infinito Amor.

Recorramos à Natureza para que nos ilustre a asserção.

O fio de cobre, largado na via pública, não passa de bagatela, mas ligado ao poder da usina é transmissor de luz e força.

O cano de chumbo, abandonado à poeira, é tropeço na estrada, contudo, em se ajustando ao reservatório, é mensageiro da água pura.

A argila, dormindo no charco, é simples trato de lama, todavia, entregue aos cuidados do oleiro, converte-se em vaso nobre.

A pedra, solta no campo, é calhau pobre e esquecido, mas, se unida à construção, é alicerce do lar.

A lagarta na amoreira é triste animal, de aspecto repelente, mas, trazida à indústria do fio, produz a seda brilhante.

A tripa de carneiro, estendido ao sol, é realmente algo desprezível, contudo, transformada na corda do violino, é abrigo doce da música.

Entretanto, o fio de cobre para iluminar padece a tensão da energia elétrica, o cano de chumbo necessita disciplinar-se para servir, a argila experimenta o insulto do fogo para erguer-se em utilidade, a pedra sofre a própria ocultação para erigir-se em sustentáculo, a lagarta deve morrer para auxiliar e a tripa de carneiro passa por longo processo renovador, a fim de responder com segurança aos sonhos do musicista.

Em verdade, todos somos corações frágeis, almas culpadas, consciências denegridas e Espíritos transgressores, diante da Lei, mas, ligados ao Espírito de Nosso Divino Mestre, podemos ser instrumentos do Eterno Bem.

Não basta, porém, salientar as nossas fraquezas, cultivando a preguiça e a falsa modéstia.

É imprescindível abraçar a verdadeira humildade, com obediência e disciplina, ante os desígnios do Senhor, porque, aprendendo e servindo, amando e ajudando, lutando e sofrendo em sua Causa Sublime, será possível cumprir-lhe a Divina Vontade e retratar-lhe a Divina Luz.


André Luiz