Filho Deficiente

A decepção passou a ser-te um ferrete em brasa, dilacerando sem cessar os teus sentimentos. 
Todos os planos ficaram desfeitos, quando esperavas entesourar de felicidade e vitória. 
No suceder dos dias, desde os primeiros sinais, anelaste por um ser querido que chegaria aos teus braços com os louros e a predestinação da grandeza em relação ao futuro. 
O pequenino príncipe deveria trazer no corpo, na mente, na vida, as características da raça pura, grandioso no porte, lúcido na inteligência, triunfador nas realizações. 
O que agora contemplas não é o filho desejado, mas um feio espécime, mutilado, enfermo, frágil... 
Mal acreditas que haja gerado por teu intermédio, que seja seu filho. 
Por pouco não o detestas. 
Mal te recobras do choque e da vergonha que experimentas quando os amigos o vêem, quando sabem que é teu descendente. 
Surda revolta assenhoreia-se de sua alma e, a pouco e pouco, a amargura ganha campo em teu coração.
Reconsidera o quanto antes, atitudes e posições mentais. 
Não podes arbitrar com segurança no jogo dos insondáveis sucessos da reencarnação. 
Pára a reflexionar e submete-te à injunção redentora. 
A tua frustração decorre do orgulho ferido, do desamor que cultivas. 
Teu filho deficiente necessita de ti. Tu, porém, mais necessitas dele.


Joanna de Ângelis