Sonhos
“Que se deve pensar das significações atribuídas aos sonhos?
Os sonhos não são verdadeiros como o entendem os ledores de Buena - Dicha, pois
fora absurdo crer – se que sonhar com tal coisa anuncia tal outra. São
verdadeiros no sentido de que apresentam imagens que para o espírito têm
realidade, porém que, freqüentemente, nenhuma relação guardam com o que se passa
na vida corporal. São também, como atrás dissemos, um pressentimento do futuro,
permitido por Deus, ou a visão do que no momento ocorre em outro lugar a que a
alma se transporta. Não se contam por muitos casos de pessoas que em sonhos
aparecem a seus parentes e amigos, a fim de avisa–los do que a elas esta
acontecendo? Que são essas aparições senão as almas ou espíritos de tais pessoas
a se comunicarem com entes caros? Quando tendes certeza de que o que vistes
realmente se deu, não fica provado que a imaginação nenhuma parte tomou na
ocorrência, sobre tudo se o que observastes não vos passava pela mente quando em
vigília?”
“Acontece com freqüência verem – se em sonhos coisas que parecem um
pressentimento que, afinal, não se confirmam. A que se deve atribuir isto?
Pode suceder que tais pressentimentos venham a confirmar–se apenas para o
espírito. Quer dizer que este viu aquilo que desejava, foi ao seu encontro. É
preciso não esquecer que, durante o sono a alma está mais ou menos sob a
influência da matéria e que, por conseguinte, nunca se liberta completamente de
suas idéias terrestres, donde resulta que as preocupações do estado de vigília
podem dar ao que se vê a aparência de que se deseja, ou do que se teme. A isto é
que, em verdade, cabe chamar –se efeito da imaginação. Sempre que uma idéia nos
preocupa fortemente, tudo o que vemos se nos mostra ligado a essa idéia. Quando
em sonho vemos pessoas vivas, muito nossas conhecidas, a praticarem atos de que
absolutamente não cogitam, não é isso puro efeito da imaginação? De que
absolutamente não cogitam dizes. Que sabes a tal respeito? Os espíritos dessas
pessoas vêm visitar o teu, como o teu o visita, sem que saibais sempre o que
elas pensam. Demais, não é raro atribuirdes, de acordo com o que desejais, a
pessoas que conheceis, o que se deu ou se está dando em outras existências.
Pode a atividade do espírito, durante o repouso corporal, fatigar o corpo?
Pode, pois o espírito se acha preso ao corpo qual balão cativo ao poste, assim
como as sacudiduras do balão abalam o poste, a atividade do espírito reage sobre
o corpo e pode fatiga–lo.”O Livro dos Espíritos – Ed FEB, (questões 402 em
diante)”. Julgamos da liberdade do espírito durante o sono pelos sonhos.”O sonho
é a lembrança do que o espírito vive durante o sono. Notai, porém, que nem
sempre sonhais. Que quer dizer? Que nem sempre vos lembrais do que vistes, ou de
tudo o que haveis visto, enquanto dormíeis. É que não tendes então a alma em
pleno desenvolvimento de suas faculdades, muitas vezes apenas vos fica a
lembrança da perturbação que o vosso espírito experimenta a sua partida ou ao
seu regresso, acrescida de que resulta do que fizestes ou do que vos preocupa
quando despertos, a não ser assim, como explicaríeis os sonhos absurdos, que
tanto os sábios, quanto aos mais humildes e simples criaturas têm? Acontece
também que os maus espíritos se aproveitam dos sonhos, para atormentar as almas
fracas e pusilânimes.”
“Tratai de distinguir essas duas espécies de sonhos nos que vos lembrais do
contrário caireis em contradições e em erros funestos à vossa fé.”
Os sonhos são efeitos da emancipação da alma que mais independente se torna pela
suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de clarividência
indefinida que se alonga até aos mais afastados lugares e até mesmo a outros
mundos. Daí também a lembrança que traz à memória acontecimentos da precedente
existência ou das existências anteriores. As singulares imagens do que se passa
ou se passou em mundos desconhecidos, entremeados de coisas do mundo atual, e
que formam esses conjuntos e confusos, que nenhum sentido ou ligação parecem
ter. A incoerência dos sonhos ainda se explica pelas lacunas que apresenta a
recordação incompleta que conservamos do que nos apareceu quando sonhamos. É
como se a uma narração se truncassem frases ou trechos ao acaso. Reunidos
depois, os fragmentos restantes nenhuma significação racional teriam”.
Porque não nos lembramos sempre dos sonhos?
.....: Recobra, o espírito, durante o sono, um pouco da sua liberdade e se
corresponde com os que lhe são caros, quer neste mundo, quer em outros. Mas,
como é pesada e grosseira a matéria que o compõe, o corpo dificilmente conserva
as impressões que o espírito recebeu, porque a este não chegaram por intermédio
dos órgãos corporais.”
Tendo entendido que o sonho é lembrança do que vimos, fundamental para
consolidação do nosso estudo é a compreensão do que venha a ser visão
espiritual. Vejamos o que consta na Gênese da codificação espírita:
“....A visão espiritual não se opera por meio dos olhos do corpo, segue – se que
a percepção das coisas não se verifica mediante a luz ordinária: de fato, a luz
material é feita para o mundo material, para o mundo espiritual, uma luz
especial existe, cuja natureza desconhecemos, porém que é, sem dúvida, uma das
propriedades do fluído etéreo, adequada às percepções visuais da alma. Há,
portanto, luz material e espiritual A primeira emana dos focos circunscritos aos
corpos (celestes) luminosos, a segunda tem seu foco em toda à parte, tal a razão
porque não há obstáculo para a visão espiritual, que não é embaraçada nem pela
distância e nem pela opacidade da mataria, não existindo para ela a obscuridade,
o mundo espiritual é, pois, iluminado pela luz espiritual, que tem seus efeitos
próprios, como o mundo material é iluminado pela luz solar.”
Assim, envolta no seu perispírito, a alma tem consigo o seu princípio luminoso.
Penetrando a matéria por virtude da sua essência etérea, não há, para sua visão,
corpos opacos.
Entretanto, a vista espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em
penetração, para todos os espíritos, somente os espíritos puros a possuem em
todo o seu poder, nos espíritos inferiores ela se acha enfraquecida pela
relativa grosseria do perispírito, que se lhe interpõe qual nevoeiro.”
“Manifesta – se em diferentes graus, nos espíritos encarnados, pelo fenômeno da
segunda vista, tanto no sonambulismo natural ou magnético, quanto no estado de
vigília. Conforme o grau de poder da faculdade, diz–se que a lucidez é maior ou
menor, com o auxílio dessa faculdade é que certas pessoas vêm o interior do
organismo humano e descrevem as causas das enfermidades.”
“A vista espiritual, portanto, faculta percepções especiais que não tendo por
sede os órgãos materiais, se operam em condições muito diversas das que decorrem
da vida corporal. Efetuando–se fora do organismo, tem ela uma mobilidade que
derrui todas as previsões.
Indispensável se torna estuda–la em seus efeitos e em suas causas e não
assimilando–a a vista ordinária, que ela não se destina a suprir, salvo casos
excepcionais, que se não poderia tomar como regra.”
“Necessariamente incompleta e imperfeita é a vista espiritual nos espíritos
encarnados e, por conseguinte, sujeita a aberrações. Tendo por sede a própria
alma, o estado desta há de influir nas percepções que naquela vista faculte,
segundo o grau de desenvolvimento, as circunstâncias e o estado de vigília”:
1° a percepção de certos fatos materiais e reais, como o conhecimento de alguns
que ocorrem a grande distância, os detalhes descritivos de uma localidade, as
causas de uma enfermidade e os remédios convenientes;
2° a percepção de coisas igualmente reais do mundo espiritual, com a presença
dos espíritos;
3° imagens fantásticas criadas pela imaginação, análogas às criações fluídicas
do pensamento.
Estas criações se acham sempre em relação com as disposições morais do espírito
que as gera. É assim que o pensamento de pessoas fortemente imbuídas de certas
crenças religiosas e com elas preocupadas lhe apresenta o inferno, suas
fornalhas, suas torturas e seus demônios, tais quais essas pessoas imaginam. Às
vezes, é toda uma epopéia. Os pagãos viam o Olimpo e o Tártaro, como os cristãos
vêm o inferno e paraíso, se, ao despertarem ou ao saírem do êxtase, conservam a
lembrança exata de suas visões, os que as tiveram tomam–nas como realidades
confirmativas de suas crenças, quando tudo não passa de produto de seus próprios
pensamentos. Cumpre, pois se faça uma distinção muito rigorosa nas visões
extáticas, antes que se lhe dê crédito. A tal propósito, o remédio é o estudo
das leis que regem o mundo espiritual”.
“Os sonhos propriamente ditos apresentam os três caracteres das visões acima
descritas. As duas primeiras categorias dessas visões pertencem os sonhos de
previsões, pressentimentos e avisos. Na terceira, isto é, nas criações fluídicas
do pensamento, é que se pode deparar com a causa de certas imagens fantásticas,
que nada têm de real, com relação à vida corpórea, mas que apresentam às vezes,
para o espírito, uma realidade tal, que corpo lhe sente a impressão de um sonho,
podem essas criações ser provocadas”:
pela exaltação das crenças;
por lembranças retrospectivas;
por gostos, paixões, desejos, temor, remorsos, pelas preocupações habituais:
pelas necessidades do corpo, ou por um embaraço nas funções do organismo;
finalmente, por outros espíritos, com objetivo benévolo ou maléfico, conforme a
sua natureza.”
“Os sonhos, em suas variadas formas, têm uma causa única: a emancipação da alma,
esta se desprende do corpo carnal durante o sono e se transporta a um plano mais
ou menos elevado do universo, onde percebe, com o auxílio de seus sentidos
próprios, os seres e as coisas desse plano...”
Este conceito o estudante deve sempre ter em mente...
“Podem dividir – se os sonhos em três categorias principais”:
Primeiramente, o sonho ordinário, duramente cerebral, simples repercussão de
nossas disposições físicas ou de nossas preocupações morais, é também o reflexo
das impressões e imagens arquivadas no cérebro durante a vigília; na ausência de
qualquer direção consciente, de toda a intervenção a da vontade, elas se
desenvolvem automaticamente ou se traduzem em cenas indecisas, destituídas de
coordenação e de sentido, mas que permanecem gravadas na memória.
O sofrimento em geral e, particularmente, certas enfermidades, facilitando o
desprendimento do espírito, aumentam ainda mais a incoerência e a intensidade
dos sonhos. O espírito, obstado em seu surto, empuxado a cada instante para o
corpo, não se pode elevar. Daí o conflito entre a matéria e o princípio
espiritual, que reciprocamente se influenciam. As impressões e imagens se chocam
e confundem.
No primeiro grau de desprendimento, o espírito flutua na atmosfera, sem se
afastar muito do corpo; mergulha, por assim dizer no oceano de pensamentos e
imagens, que de todos os lados rolam pelo espaço, dele se impregna, e aí colhe
impressões confusas, tem estranhas visões e inexplicáveis sonhos; a isso se
mesclam às vezes reminiscências de vidas anteriores, tanto mais vivazes quanto
mais completo é o desprendimento, que assim permite entrarem em vibração as
camadas profundas da memória. Esses sonhos, de infinita diversidade, conforme o
grau de emancipação da alma, afetam sobre tudo o cérebro material, e é por isso
que deles conservamos a lembrança, ao despertar.
Por último vêm os sonhos profundos, ou sonhos etéreos, o espírito se subtrai à
vida física, desprende – se da matéria, percorre a superfície da terra e a
imensidade, onde procura os seres amados, seus parentes, seus amigos, seus guias
espirituais. Vai, não raro ao encontro das almas humanas, como ele desprendido
da carne durante o sono, com as quais se estabelece uma permuta de pensamentos e
desígnios, dessas práticas conserva o espírito impressões que raramente afetam o
cérebro físico, em virtude de sua impotência vibratória. Essas impressões se
gravam, todavia, na consciência, que lhes guarda os vestígios, sob a forma de
intuições, de pressentimentos, e influem, mais do que se poderia supor, na
direção da nossa vida, inspirando os nossos atos e resoluções. Daí o provérbio:
A noite é boa conselheira.”
“Algumas vezes, quando suficientemente purificada, a alma, conduzida por
espíritos angélicos, chega em seus transportes a alcançar as sobranceiras do
tempo, e vê desdobrarem – se o passado e o futuro. Se acaso comunica ao
invólucro humano um reflexo das sensações colhidas, poderão estas constituir o
que se denomina sonho profético.
Nos casos importantes, quando o cérebro humano vibra com demasiada lentidão para
que possa registrar as impressões intensas ou sutis percebidas pelo espírito, e
este quer conservar, ao despertar, a lembrança das instruções que recebeu, cria
então, pela ação da vontade, quadros, cenas figurativas das imagens fluídicas,
adaptadas à capacidade vibratória do cérebro material, sobre o qual, por um
efeito sugestivo, as projeta energicamente, e, conforme a necessidade, se é
inábil para isso, recorrerá ao auxílio dos espíritos mais adiantados, e assim
revestirá o sonho de uma forma alegórica.
Entre os sonhos deste gênero, há alguns célebres, como por exemplo, o sonho do
faraó, interpretado por José.
Muitas pessoas têm sonhos alegóricos, os quais nem sempre traduzem as impressões
recebidas diretamente pelo espírito do indivíduo adormecido, mas, na maior parte
das vezes, revelações provenientes das almas, que todos temos, prepostas a nossa
guarda.
Nos sonhos são com freqüência, registrados fenômenos de premonição, isto é,
comprova –se a faculdade que possuem certos sentidos de perceber, durante o
sono, as coisas futuras. São abundantes os exemplos históricos:
Plutarco (Vida de Júlio César) faz menção do sonho premonitório de Calpúrnia,
mulher de César. Ela presenciou durante a noite a conjuração de Brutus e Cassius
o assassínio de César, e fez todo o possível para impedir este de ir ao Senado.
Pode–se também ver em Cícero (De Divinatione), I, (27) o sonho de Simônides. Em
Valério Máximo (VII, Par I, 8), o sonho Máximo (VII, Par I, 8), o sonho
premonitório de Aterio Rufo e (VII, Par I, 4) o do Rei Creso, anunciando–lhe a
morte de seu filho Athys”.
“Fatos mais recentes, registrados em grande número, podem ser comprobatóriamente
mencionados, o sonho do presidente Abraão Lincoln, com sua morte.
“Em seu livro O Desconhecido e os Problemas Psíquicos, C. Flammarion cita 73
sonhos premonitórios”, dois dos quais por sua mãe (Cap IX). Na maior parte os
reveste o caráter da mais absoluta autenticidade”
“Muitas pessoas vêm em sonhos cidades, sítios, paisagens, que realmente
visitaram mais tarde.” Aos sonhos etéreos pode – se juntar o fenômeno êxtase ou
arroubo. Considerando por certos sábios, pouco competentes em matéria de
psiquismo, como estado mórbido, o êxtase é em verdade em dos mais belos
apanágios da alma afetuosa e crente...”O êxtase poderá ser objeto de estudo
específico.
Finalizando este modesto estudo em que, como firmamos no 1° artigo, tivemos por
objetivo responder de maneira simples e pura, a luz dos ensinos dos espíritos,
vamos transcrever o § 7° e o comentário da questão nº402 de “O Livro dos
Espíritos”, combinado com o Cap XXI – O sono natural e sono e sonhos - livro
Mecanismos da Mediunidade do espírito André Luis; assim como a concentração e
desdobramento e inspiração do mesmo livro e autor:
“em suma, dentro em pouco vereis vulgarizar – se outra espécie de sonhos. Com
quanto tão antiga como a que vimos falando, vós a desconheceis. Refiro – me aos
sonhos de Joana e ao de Jacob, aos dos profetas judeus e aos de alguns adivinhos
indianos. São recordações guardadas por almas que se desprendem quase
inteiramente do corpo, recordações dessa segunda vista que ainda pouco aludia.”
“Tratai de distinguir essas duas espécies de sonhos nos que vos lembrais, do
contrário caireis em contradições e em erros funestos à vossa fé.”
“Os sonhos são efeitos da emancipação da alma, que mais independente se torna
pela suspensão da vida ativa e de relação...” Nunca é demais firmar – se este
conceito básico. Vejamos, agora, o que os ensina André Luis:
“O sono natural: Na maioria das situações, a criatura, ainda extremamente
aparentada com a animalidade primitivista, tem a mente como que voltada para si
mesma, qualquer expressão de descanso, tomando o sono para claustro remansoso
das impressões que lhe são agradáveis, qual criança que, à solta, procura
simplesmente o objeto de seus caprichos.”
“Nesse ensejo, configura na onda mental que lhe é característica as imagens com
que se acalenta, sacando da memória a visualização dos próprios desejos,
imitando alguém que improvisasse miragens, antecipação de acontecimentos que
aspira a concretizar. Atrita ao narcisismo, tão logo demande o sono, quase
sempre se detém justaposta ao veículo físico, como acontece ao condutor que
repousa ao pé do carro que dirige, entregando – se à volúpia mental com que
alimenta os próprios impulsos afetivos, enquanto a máquina se refaz.”
“Ensimesmada, a alma, usando recursos da Visão Profunda, localizada nos fulcros
do diencéfalo, e, plenamente desacolchetada do corpo carnal, por temporário
desnervamento, não apenas se retempera nas telas mentais com que preliba
satisfações distantes, mas também experimenta de igual modo o resultado dos
próprios abusos, suportando o desconforto das vísceras injuriadas por ele mesmo
ou a inquietude dos órgãos que desrespeita, quando não padece a presença de
remorsos constrangedores, a face dos atos reprováveis que pratica, porquanto
ninguém se livra, no próprio pensamento, dos reflexos de si mesmo.”
“Sono e Sonho: Qual ocorre no animal de evolução superior, ao homem de evolução
positivamente inferior o desdobramento da individualidade, por intermédio do
sono, é quase que absoluto estágio de mero refazimento físico.
No primeiro, em que a onda mental é simplesmente fraca emissão de forças
fragmentárias, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas.
No segundo, em que a onda mental está em fase iniciante de expansão, o sonho,
por muito tempo, será invariável ação reflexa do próprio mundo consciencial ou
afetivo. Evolui, no entanto, o pensamento na criatura que amadurece
espiritualmente, através da repercussão (reflexo das idéias nas relações
mentais, com outras mentes encarnadas ou desencarnadas).
Como no caso do sensitivo que, fora do envoltório físico, vai até o local
sugerido pelo magnetizador, tomando – se a ordem determinante da hipnose pelo
reflexo condicionado que lhe comanda as idéias, a criatura na hipnose fora do
veículo somático, possui no próprio desejo o reflexo condicionado que lhe
circunscreverá o âmbito da ação além da roupagem fisiológica, alongando – se até
ao local em que se lhe vincula o pensamento.
O homem do campo no repouso físico, supera os fenômenos hipnogógicos e volta à
gleba que semeou, contemplando aí, em espírito, a plantação que lhe recolhe o
carinho, o artista regressa a obra a que se consagra, mentalizando – lhe o
aprimoramento; o espírito maternal se aconchega ao pé dos filhinhos que a vida
lhe confia, e o delinqüente retorna ao lugar onde se encarcera a dor do seu
arrependimento.
Atravessada à faixa das chamadas imagens eutópicas, exteriorizam de si mesmos os
quadros mentais pertencentes à atividade em que se concentram, com os quais
angariam a tensão das inteligências desencarnadas que com eles se afinam,
recolhendo sugestões para o trabalho em que se empenham, muito embora, à
distância da veste somática, freqüentemente procedem ao modo de criança
conduzidas ao ambiente de pessoas adultas, mantendo – se entre as idéias
superiores que recebem e as idéias infantis que lhes são próprias, do que lhe
resulta, na maioria das vezes, o aspecto caótico das reminiscências que
conseguem guardar, ao retornarem à vigília.
Nesse estágio evolutivo, permanecem milhões de pessoas representando a faixa de
evolução mediana da humanidade rendendo – se, cada dia, ao impositivo do sono ou
hipnose natural de refazimento, em que se desdobram, mecanicamente, entretanto,
fora do indumento carnal, em sintonia com as entidades que se lhes revelam
afins, tanto na ação construtiva do bem, quanto na ação deletéria do mal,
entretecendo – se – lhes o caminho da experiência que lhes é necessária à
sublimação no porvir.
“Concentração e desdobramento. Quantos se entregam ao labor da arte, atraem,
durante o sono, as inspirações para a obra que realizam, compreendendo – se que
os espíritos enobrecidos assimilam do contacto com as Inteligências Superiores
os motivos corretos e brilhantes que lhes palpitam nas criações, ao passo que as
mentes sarcásticas ou criminosas, pelo mesmo processo, apropriem – se dos temas
infelizes com que se acomodam, acordando a ironia e a irresponsabilidade
naqueles que se lhes ajustam aos pensamentos, pelo trabalho a que se dedicam.
Desdobrando – se no sono vulgar, a criatura segue o rumo da própria
concentração, procurando, automaticamente, fora do corpo de carne, os objetivos
que se casam com os seus interesses evidentes ou escusos. Desse modo,
mencionando apenas um exemplo dos contactos a que aludimos, determinado escritor
exporá idéias edificantes se originais no que tange ao serviço do bem, induzindo
os leitores à elevação de nível moral, ao passo que outro exibirá elementos
aviltantes, alinhando escárnio ou lodo sutil com quer corrompe as emoções de
quantos se lhe entrosam a maneira de ser “.
“Inspiração e desdobramento. Dormindo o corpo denso continua vigilante à onda
mental de cada um - presidindo o Sono Ativo, quando registra no cérebro dormente
as impressões do espírito desligado das células físicas, e ao Sono Passivo,
quando a mente, nessa condição, se desinteressa, de todo, da esfera carnal.
Nessa posição, sintoniza – se com as oscilações de companheiros desencarnados ou
não com os quais se harmonize, trazendo para a vigília no carro da matéria
densa, em forma de inspiração, os resultados do intercâmbio que levou a efeito,
porquanto raramente conseguem conscientizar as atividades que empreendem no
tempo do sono.
Muitos apelos do plano terrestre são atendidos, integralmente ou em parte, nessa
fase de tempo.
Formulando esse ou aquele pedido ao companheiro desencarnado, habitualmente
surge a resposta quando o solicitante se acha desligado do vaso físico.
Entretanto como nem sempre o cérebro físico esta em posição de fixar o encontro
realizado ou a informação recebida, os remanescentes da ação espiritual, entre
encarnados e desencarnados permanecem, naqueles espíritos que ainda se demoram
chumbados a terra, à feição de quadros simbólicos ou de fragmentárias
reminiscências, quando não sejam na forma de súbita inquietação, a expressarem,
de certa forma, o socorro parcial ou total que se mostrem capazes de receber.
Valdomiro Halvei Barcellos