Pensando nos Romances Espíritas
Vez por outra se ouve dizer sobre os chamados romances água com açúcar, em
desprestígio a muitas obras lançadas no vasto e crescente mercado livreiro
espírita.
É verdade que há muitos casos de precipitações, de obras que deturpam o
pensamento espírita – onde ilusões e inverdades são apresentadas –, mas há que
se considerar que livros, autores e leitores também estão – assim como todos nós
seres humanos – em diferentes estágios de entendimento e amadurecimento
intelecto-moral.
Vejam os amigos que colhemos na preciosa obra Recordações da Mediunidade, da
inolvidável Yvonne do Amaral Pereira (capítulo 6 – Testemunho):
“Muitos dos nossos leitores, ou quase que em geral os espíritas, supõem sejam os
romances mediúnicos meros arranjos literários, ficções habilidosas para
exposições doutrinárias. Alguns confessam mesmo não se darem ao trabalho de ler
tal literatura, visto não se interessarem por obras fictícias. Não sentem nem
mesmo a curiosidade, muito razoável, demonstrando zelo pela causa esposada, de
observar a arte com que os romancistas espirituais tecem os seus enredos para
apresentar a magnificência do Bem, que tais livros tanto exaltam, alheios, como
se deixam estar, à relação dos fatos reais da vida de cada dia, que os mesmos
livros expõem paralelamente com o ensinamento revelado pela Doutrina dos
Espíritos. O Espírito Adolfo Bezerra de Menezes, em certa obra mediúnica a nós
concedida (Dramas da Obsessão), classifica os romances espíritas de similares
das parábolas messiânicas, visto serem eles extraídos da vida real do homem,
enquanto as parábolas igualmente foram inspiradas ao Divino Mestre pela vida
cotidiana dos galileus, dos judeus e de suas azáfamas diárias. (...)”.
E continua com sabedoria: “(...) Comumente, pois, os fatos narrados nos romances
mediúnicos são extraídos das próprias vidas planetárias, remotas ou recentes,
dos autores espirituais, como sabemos acontecido com as obras Há 2.000 anos e
Cinqüenta anos depois, ditadas por Emmanuel ao médium Chico Xavier (...)”.
E no mesmo valioso capítulo, Yvonne também cita: “(...) Também a entidade Padre
Germano confia episódios de sua vida terrena à médium espanhola, Amália Domingos
Soler, confidências que resultaram num dos mais belos e encantadores livros que
enriquecem a bibliografia espírita: Memórias do Padre Germano. (...)”
Referido capítulo é riquíssimo em ensinamentos e direcionamos o leitor para sua
leitura na íntegra, assim como para a obra toda, de um preciosismo doutrinário
impecável. Move-nos, na presente abordagem, todavia, falar da importância também
dos chamados romances água com açúcar, úteis para os que se aproximam da
Doutrina Espírita e que gradativamente vão amadurecendo os preceitos
fundamentais. Claro que tal afirmação não autoriza, de forma alguma, a
publicação de uma obra só por publicar. Os critérios de seleção doutrinária hão
que ser preservados, a bem da genuína divulgação espírita. O que ocorre e
desejamos dizer é que os romances – embora muitos não alcancem a expressão a que
se refere Yvonne no trecho acima transcrito – são úteis. Alcançam as mentes mais
simples, impulsionam o interesse por outras obras e adentram lares e corações
onde talvez obras clássicas não conseguiram abrir trincheiras de conquista.
Yvonne do Amaral Pereira
Editores, autores, divulgadores, palestrantes e coordenadores devem preservar o
conteúdo doutrinário com sua atenção, indicando obras sérias que auxiliem
pessoas na superação de seus dramas e dificuldades e muitos romances, embora
sejam considerados inexpressivos, sempre trazem algo que constrói e abre a mente
para novos vôos de entendimento. Se a leitura é proveitosa e digna, se não fere
os princípios doutrinários, porque não divulgar?
Orson Carrara