Um Novo Olhar
“e fecharam seus olhos, para que não vejam com os olhos, para
que não ouçam com os ouvidos, compreendam com o coração.” Mateus13:15
Chama-nos a atenção a grande incidência de cegos no Evangelho. Há, por assim
dizer, uma “preferência” do Cristo na sua cura. Há os de nascença , os que
encegueceram por um período, os que voltaram a ver e permaneceram vendo e muitos
que voltaram às trevas após terem visto a luz; há ainda aqueles a quem foi
pedido não contar o milagre a ninguém e os que ficaram liberados para adentrar a
aldeia; os que foram curados após muitos gritos e os que em silêncio foram
libertados da escuridão...
O que a Psicologia tem a nos dizer sobre esses acontecimentos?
É que os olhos representam a luz da consciência plenificada. As trevas da
linguagem evangélica, ilustradas pelos cegos em questão, serão antes as do
próprio espírito apartado das leis divinas, órfão psíquico do Pai de Amor,
estrangeiro em terras próprias.
Se trouxermos essas reflexões para a atualidade, encontraremos na abordagem
sistêmica uma forte aliada porque fundamentada em idéias da física quântica,
propondo ao homem um novo olhar.
O “olhar redondo” ou sistêmico guarda fortes conotações com as verdades cristãs
como veremos a seguir. É um olhar holográfico, parabólico, que traduz uma
postura de vida compreensiva, diferente daquele olhar particular, ajuizante.
Intencionados a ver o todo de qualquer situação ou idéia,e isto nos inclui,
obteremos a possibilidade de alcançar novas dimensões da mesma. Só assim
compreenderemos, isto é, faremos uma apreensão do todo. O olhar particularizante
é o famoso “olho ruim”. Já vemos de forma preconcebida, absoluta, e em seguida
lançamos o nosso julgamento: isto é bom; isto é ruim, sem deixar qualquer margem
para o relativo. E o relativo é sinônimo de justiça.
Estamos de tal forma condicionados a olhar apenas a parte que o fazemos
inconscientemente, iniciando de nós próprios. Costumamos dizer que não
necessitaríamos de quaisquer inimigos: nós mesmos damos conta de nos derrubar! O
primeiro pensamento inquietante, a primeira imagem infeliz e já nos damos por
perdidos. Lógico que temos a responsabilidade primeira com esses pensamentos,
mas é igualmente lógico que podemos mudar o rumo de nossas vibrações para
ambientes psíquicos melhores. Para tanto sobram-nos recursos variados, sejam da
casa de orações escolhida pela nossa fé, seja através da psicologia humanista,
que inclui o homem em sua tridimensionalidade: corpo, mente, transcendência.
O novo olhar é ético e, portanto, ecológico. Olhemos com respeito a vida
incluindo todos os seres vivos fazendo com que o egoísmo, filho direto não só de
nosso orgulho, como também de nossa insegurança, desarme as suas improdutivas
defesas com as quais nos iludimos. Poderemos inclusive, ao final deste processo
de mudança , acessar a intuição jogando fora o controle que só vê de perto,
pequeno e claro (conexão local) enquanto a intuição vê longe,grande e no escuro
(conexão não local).
Conseqüências variadas e salutares começam a ser colhidas e a principal delas é
a tolerância para com nós mesmos e para os que nos cercam.
Vamos exercitar esse novo olhar. De nada nos custa e afinal... “Todo mundo tem
razão, inclusive você”.
Alcione Albuquerque - Delfos