Falando ao Senhor
Senhor!
Se hoje viesses em pessoa
Até nós,
Que te diria eu?
Que milhões e milhões de companheiros
Vagam em desatino
Sem cogitarem de saber
O que são e quem são?
Que a penúria de espírito campeia,
Insuflando amargura e rebeldia
Sofrimento, ilusão?
Que o medo, em, se alastrando,
Na escura inquietação a que se aferra,
Gera conflito e angústia, em toda parte,
Nos caminhos da Terra?
Que a riqueza do centro não remove
Tristeza e solidão na alma ferida,
Que as engenhos perfeitos do progresso
Não enxugam as lágrimas de vidas
Que te diria eu, Jesus, se te encontrasse?
Que nos condoí fitar a multidão
Dos que fogem de si mesmos,
Dando-se à dor maior por onde vão?
Que mos comove contemplar
A inteligência rica e, entretanto, insegura,
Elevando o conforto
Sem saber dissipar as sombras da loucura?
Que diria Senhor?
Não te diria nada disso,
Pois sabes tudo ser muito mais do que nós,
Rogar-te-ia tão somente
A bendita prisão
Na força do dever
Que me guarde em serviço,
Para que eu saiba compreender
Sem azedume, e sem alarme.
Como aperfeiçoar-me
Para aceitar-te, enfim,
Porque todo, Senhor, estará justo e certo,
Do que eu, veja no mundo, longe ou perto,
Se a tua luz brilhar dentro de mim.
Maria Dolores