Notícias de Bezerra
Conta-se que Bezerra de Menezes, o denotado apóstolo do Espiritismo no
Brasil, após alguns anos de desencarnação, achava-se em praia deserta, meditando
tristemente quando à maioria dos petitórios que lhe eram endereçados do mundo.
Em grande número de reuniões consagradas à prece, solicitavam-lhe providências
de natureza material.
Numerosos admiradores e amigos rogavam-lhe empregos rendosos, negócios
lucrativos, alojamentos, proteção a documentários diversos, propriedades e
promoções.
Em verdade, sentia-se feliz, quando chamado a servir um doente ou quando trazido
à consolação dos infortunados, porém, fora na Terra um médico espírita e um
homem de bem, à distância de maiores experiências em atividades comerciais.
Por que motivo a convocação indébita de seu nome em processos inconfessáveis?
Não era também ele um discípulo do Evangelho, interessado em ascender à maior
comunhão com o Senhor? Não procurava aprender igualmente a lutar e renunciar?
Monologava, entre inquieto e abatido, quando viu junto dele o grande Antonio,
desencarnado em Pádua, no ano de 1231.
O herói admirável da Igreja Católica, nimbado de intensa luz, ouvira-lhe o
solilóquio amargo.
Abraçou-o, com bondade, e convidou-o a segui-lo.
A breves minutos, ei-los ambos no perfumado recinto de grande templo.
O santuário, dedicado ao popular taumaturgo, regurgitava de fiéis que se
prosternavam, reverentes, diante da primorosa estátua que o representava,
sustentando a imagem de Jesus Menino.
O santo impeliu Bezerra a escutar os requerimentos da assembléia e o seareiro
espírita conseguiu anotar as mais estranhas e inoportunas requisições.
Suplicava-se a Antonio casa e comida, dinheiro fácil e saliência política,
matrimônio e proteção. Não faltava quem lhe implorasse contra outrem perseguição
e vingança, hostilidade e desprezo, inclusive crimes ocultos.
O amigo e benfeitor esboçou um gesto expressivo e falou, bem humorado, ao
evangelizador brasileiro:
- Observaste atentamente? As petições são quase sempre as mesmas nos variados
campos da fé. Sequioso de burilamento íntimo, troquei na Igreja o hábito de
cônego pelo burel dos frades... Ensinei a palavra do Mestre Divino, sufocando os
espinhos de minhas próprias imperfeições. Fosse nas seduções da vida secular ou
na austeridade do convento, caminhava mantendo pavorosas batalhas comigo mesmo,
ansiando entesourar a virtude, em cujo encalço permaneço até hoje, entretanto,
procuram-me através da oração, por meirinho comum ou por advogado
casamenteiro...
E, por que Bezerra sorrisse, reconfortado, aduziu?
- Nosso problema, no entanto, é o de instruir sem desanimar. Jesus no monte
sentiu extrema compaixão pela turba desvairada, alimentando-lhes o corpo e
clareando-lhes a alma obscura...
Nesse justo momento, surge alguém à cata de Bezerra. Num círculo de oração,
organizado na Terra, pediam-lhe indicações para que fosse descoberto um enorme
tesouro de aventureiros antigos, desde muito enterrado.
Antonio afagou-lhe os ombros e disse benevolente:
- Vai, meu amigo, e não desdenhes auxiliar. Decerto, não te preocuparás com o
ouro escondido, mas ensinarás aos nossos irmãos o trato precioso do solo para a
riqueza do pão de todos e, descerrando-lhes o filão do progresso, plantarás
entre eles o entendimento e a bondade do Excelso Amigo.
Bezerra despediu-se, contente, e tornou corajoso à luta, compreendendo, por fim,
que não bastaria lamentar a atitude dos companheiros invigilantes, mas
auxilia-los com todo amor, consciente de que o Cristo é o Mestre da Humanidade e
de que o Evangelho, acima de tudo, é obra de educação.
Irmão X