A Dura Realidade das Guerras

Se estivermos acompanhando os noticiários que a mídia nos vem oferecendo nos últimos anos, concluiremos que a violência, em todas as suas formas, tem aumentado de forma assustadora em nosso mundo. O que mais impressiona negativamente, no entanto, é que o número de conflitos armados entre diferentes nações está em um nível que não se via há muito tempo. Sempre que lemos um jornal ou assistimos a algum programa de notícias, inevitavelmente vemos cenas de pessoas envolvidas em guerras que tiram a vida de milhares de seres humanos e que provocam imensas devastações nos lugares onde essas guerras acontecem.
Ao tomarmos conhecimento desses fatos, além da tristeza natural que sentimos por todos estes eventos lamentáveis, ficamos temerosos de que essas guerras se espalhem pelo mundo, colocando a vida planetária em risco. Diante deste quadro indagamos: qual o motivo dos habitantes da Terra ainda insistirem em eliminar uns aos outros e causar tanta destruição e por que Deus permite que isto aconteça?
A doutrina espírita vem novamente em nosso socorro para nos esclarecer sobre esse assunto de extrema gravidade. Em O Livro dos Espíritos1, no capítulo Da Lei de Destruição, na questão 742, Allan Kardec questiona os espíritos superiores sobre o que impele o homem à guerra, e os espíritos lhe respondem o seguinte: “Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direto conhecem – o do mais forte”. O significado desta resposta é muito claro. As guerras, tanto as do passado como as contemporâneas, têm como motivos principais o egoísmo e a sede de poder das criaturas humanas, que utilizam todos os meios possíveis para conseguirem aquilo que desejam, não se importando em prejudicar quem quer que seja. Nas guerras de antigamente, o objetivo principal era a dominação completa de um povo sobre o outro, submetendo aquele que foi derrotado à vontade do vencedor. Hoje em dia, países se armam e se atacam mutuamente no intuito principal de fazer valer as suas idéias, tanto no aspecto político, quanto no econômico. Porém, em ambos os casos, o motivador fundamental é, sem dúvida alguma, a inferioridade moral do ser humano, que com esta atitude acaba gerando um clima de medo e de discórdia em nosso planeta.
As conseqüências nefastas das guerras também podem ser percebidas no mundo espiritual. Uma prova disso se encontra no livro Os Mensageiros2, do espírito André Luiz. O capítulo dezoito da referida obra fala sobre o intenso labor realizado por vários trabalhadores desencarnados da seara do Cristo em favor de espíritos que desencarnaram lutando na Segunda Guerra Mundial. Aqueles espíritos, em sua maior parte, deixaram o corpo físico em circunstâncias muito violentas, ficando num grande estado de desequilíbrio. Uma parcela desses espíritos, porém, conseguiu ser auxiliada pelos bons espíritos, que os levaram a postos de socorro para que pudessem com o tempo recuperar o seu equilíbrio. Muitas outras entidades espirituais, no entanto, não conseguiram receber nenhum tipo de ajuda do plano espiritual superior, por terem fixado suas mentes em lembranças angustiantes, provenientes de suas desencarnações no campo de batalha,permanecendo assim presas ao ambiente terrestre . Devemos lembrar que estes fatos não ocorreram somente nesta guerra especificamente. Eles acontecem em todos os grandes conflitos armados em que os homens participam.
Essa diferença de tratamento por parte da espiritualidade maior àqueles que perderam suas vidas nas guerras também tem como motivo os atos que os espíritos tenham praticado na guerra quando encarnados. Aqueles, por exemplo, que participaram de algum conflito e mataram pessoas porque foram obrigados a isso por algum motivo, não sendo nenhum de seus atos praticados durante esse conflito motivados por maldade, mas sim para cumprir ordens, serão tratados de forma diferente daqueles que tenham tirado a vida de alguém com crueldade, ou que tenham causado destruições desnecessárias. Na questão 749 de O Livro dos Espíritos, Kardec indaga os espíritos superiores se o homem tem culpa dos assassínios praticados em guerra e eles lhe respondem: “Não, quando constrangido pela força, mas é culpado pelas crueldades que cometa, sendo-lhe também levado em conta o sentimento de humanidade com que proceda”. Se não fosse desta forma, as Leis de Deus seriam profundamente injustas.
Temos que levar em conta também que, em todas as guerras, muitos espíritos com más intenções influenciam negativamente aqueles que estão lutando, com o objetivo de fazer com que os conflitos sejam mais duradouros, a devastação seja mais extensa e as mortes sejam mais cruéis e numerosas. Eles fazem isso porque são inimigos do bem e desejam ver o mundo sucumbindo ao mal, não se importando se a guerra é justa ou não. Este fato é comprovado na resposta à questão 542 de O Livro dos Espíritos, quando o codificador pergunta às entidades venerandas por que há espíritos que lutam por uma causa injusta e elas lhe respondem que “há espíritos que só se comprazem na discórdia e na destruição. Para eles, a guerra é a guerra. A justiça da causa pouco os preocupa”.
Como podemos observar, a ambição desenfreada pelo poder, tanto entre encarnados como entre desencarnados, sempre foi e continua a ser o fator determinante das guerras que ocorreram no passado e que ocorrem na atualidade em nosso planeta, causando grandes e pungentes sofrimentos para toda a humanidade.
As Leis Divinas, contudo, são extremamente misericordiosas para conosco, pois estas mesmas Leis sempre procuram utilizar o mal que existe em nós como instrumento para a nossa própria melhoria interior. Em relação às guerras este postulado espírita também é válido. Na pergunta 744 de O Livro dos Espíritos, Kardec pergunta às entidades venerandas quais os objetivos da providência divina, tornando necessária a guerra, e estas entidades lhe respondem: “A liberdade e o progresso”.
Embora seja difícil de acreditar, essa resposta traduz a mais completa realidade. Por vivemos em um mundo de provas e expiações, a evolução de nosso planeta em todos os campos sempre ocorreu, na maioria das vezes, tendo como veículo principal a dor, sendo as guerras, em certos casos, impulsionadoras dessa evolução. A resposta dada à pergunta 737 de O Livro dos Espíritos, que trata sobre a utilidade dos flagelos destruidores, nos confirma isso. Diz-nos esta resposta que: “Essas subversões, porém, são freqüentemente necessárias para que mais pronto se dê o advento de uma melhor ordem de coisas e para que se realize em alguns anos o que teria exigido muitos séculos”.
De que forma as guerras podem apressar esta nossa evolução? Em primeiro lugar temos de considerar que os conflitos de larga escala muitas vezes são ocasionados por uma reação negativa a determinadas diretrizes que regem a estrutura social de certos povos, impostas a eles por aqueles que os dominam, ocasionando a infelicidade desses povos dominados. Escravidão, proibição de divulgação de ideais, exploração econômica e outros motivos fazem com que aqueles que estão sendo oprimidos e que ainda não possuem uma compreensão maior da vida em seu aspecto espiritual acabem reagindo de forma violenta a esta situação, tentando se libertar atacando seus dominadores, causando a morte destes em certos casos. Não poderia ser de outra forma, pois aqueles que impuseram sua dominação de forma cruel e contra a vontade dos dominados terão de expiar as conseqüências de seus atos tirânicos. Todavia, a atitude daqueles que antes foram subjugados e reagiram violentamente a esta subjugação não é digna de aplausos, já que a violência apenas gera mais violência e eles, um dia, também sofrerão os efeitos negativos desse comportamento equivocado.
Todo esse processo é muito trágico. No entanto, após o seu término, em certas ocasiões, bons acontecimentos começam a ocorrer, pois a derrota daqueles que semeavam idéias ruins possibilitará o surgimento de outros que semearão idéias novas, de progresso, de liberdade, de paz e de horizontes mais positivos para o futuro.
No passado aconteceu exatamente isso. Se olharmos para trás, veremos que progredimos de maneira sensível em todas as áreas. E muitos desses progressos só puderam ser alcançados por intermédio de lutas armadas, que acabaram por abrir espaço para a formação de uma sociedade mais justa, embora tenhamos escolhido o caminho errado para alcançar esse objetivo. Temos de ter em mente, no entanto, que fomos nós mesmos que optamos por seguir este caminho, pois ao invés de cumprirmos as Leis de Deus, as desrespeitamos, fazendo mal ao nosso próximo. E, enquanto insistirmos nesta conduta errada, a infelicidade continuará fazendo parte de nossas existências. Por esta razão é que o Espiritismo nos faz esse chamado para que modifiquemos nosso comportamento e passemos a fazer o bem a nossos semelhantes, para que possamos conviver de forma harmoniosa e fazer com que as guerras possam desaparecer da Terra.
Para encerrar, diremos que a esperança não deve abandonar o nosso coração, mesmo vendo o mundo passar por tantas turbulências, pois essas mesmas turbulências de hoje serão geradoras de tempos muito mais pacíficos e felizes para nós no futuro. Para merecermos desfrutar desses tempos felizes, contudo, temos a obrigação de nos esforçarmos pela nossa reforma íntima, aceitando os infortúnios de nossas existências como necessários à nossa própria evolução, não nos rebelando contra a realidade negativa que criamos para nós mesmos sendo invigilantes moralmente e sim perseverando para alcançar nossa própria reabilitação espiritual. Deste modo, poderemos evoluir espiritualmente, através de outras formas que não sejam as guerras e conflitos, mas sim praticando o bem, amando nossos semelhantes e respeitando os seus direitos. Somente agindo desta forma alcançaremos a paz suprema que tanto almejamos, que nada mais é do que o ponto final em nossa caminhada pela estrada da retidão moral e do amor incondicional a toda a humanidade.


André Rabello - Rie