Comércio e Intercâmbio

Há uma mensagem ditada pelo Espírito André Luiz, na psicografia de Chico, e constante do livro Sinal Verde, que muito chama a atenção, entre tantas. Embora com um título simples – que pode não atrair – seu conteúdo é para pensar. Com transcrições parciais e adaptações para o objetivo da presente abordagem, valemo-nos do pensamento do lúcido Espírito.

O comércio é também uma grande escola. Comerciários, comerciantes, vendedores, compradores, todos precisamos de atenção. Mas é comum nos depararmos com balconistas fatigados ou irritadiços. É hora de pensar nas dificuldades e provações que, indubitavelmente, os constrange na vida pessoal ou na retaguarda familiar, para não lhes negar compreensão.

A pessoa que se revela mal-humorada, em seus contatos públicos, provavelmente carrega um fardo pesado de inquietação e doença. Abrir caminho, à força de encontrões, não é só deselegância, mas igualmente lastimável descortesia.

Dar passagem aos outros, em primeiro lugar, seja no elevador ou no coletivo, é uma forma de expressar entendimento e bondade humana, virtudes ainda tão escassas nos dias atuais...

Aprender a pedir um favor aos que trabalham em repartições, mercados, lojas ou em diferentes serviços de atendimento é obrigação, não virtude. O que dizer, então, da gratidão aos que nos atendem? A gratidão é um tesouro que abre portas e está presente num simples sorriso, uma palavra breve, um aperto de mão, um cumprimento.

A gentileza, ultimamente tão esquecida, é capaz de prodígios. Ela está inclusive no evitar de anedotário chulo ou depreciativo, já que reconhecemos que as palavras criam imagens e as imagens patrocinam ações. Não é, pois, melhor, trocar a agressão verbal, a irritação, pelo estímulo da gentileza, da gratidão, da tolerância? Zombaria ou irritação só complicam as situações sem resolver os problemas.

Já percebemos que quando estamos desequilibrados, nos perdemos? E que quando estamos calmos, conseguimos dar conta do que precisamos fazer?
Quando estivermos no dever de reclamar de algo, de alguém, de alguma coisa, não façamos do verbo um instrumento de agressão. Há muitas formas de resolver os desafios do cotidiano e a agressão é a pior delas.

Isso por uma simples razão: o erro ou o engano dos outros talvez fossem nossos se estivéssemos nas circunstâncias dos outros. 
Prestemos atenção nessa última frase.

Ela nos leva ao triste e recente episódio de Santo André-SP com o desequilíbrio do jovem protagonista no seqüestro da ex-namorada e que resultou na conhecida tragédia.

Novamente a sociedade brasileira é levada a refletir sobre as precipitações, ao não julgar e especialmente convidada a estender mãos de socorro a tantos dramas com que se debatem os seres humanos. Um caso isolado? Não. Diariamente casos e casos, mais graves, menos graves, se desenrolam aos nossos atônitos olhos. Alguns chamam a atenção da mídia, outros não, mas todos revelam apenas o eclodir do desequilíbrio interior, da carência emocional e psicológica, que pode ser resultado do acúmulo de agressões sofridas, de várias origens, entre outras causas.

E tudo pode ter sido ativado pela ausência de gentileza de alguém, pela falta de tolerância ou pela irritação que agride...

Melhor pensarmos com mais carinho no assunto, pois a afabilidade é caridade no trato pessoal. Por que, afinal, nos agredimos tanto? Alguém poderá julgar-se superior a outro? Temos autoridade para isso? Quem de nós poderá situar-se isento de errar, de equivocar-se? Quem de nós poderá exigir dos outros, virtudes que ainda não detemos?

São perguntas que somente a própria consciência individual poderá responder.

A verdade crua, porém, é que o orgulho individual ainda nos domina severamente. Eis para onde devemos focar nossos esforços: no domínio de nós mesmos!


Nota do autor: o livro citado, de onde extraímos a mensagem que nos inspirou a presente abordagem, constitui roteiro vivo de orientação. Não deixe de conhecê-lo.


Orson Carrara