O Minuto
Nos meus tempos de menino, naquela idade em que balas e
bombons povoam nossos sonhos, eu levava longos minutos a me decidir pelas balas
que queria comprar.
E, uma vez compradas, mais ainda custava a resolver se as devia chupar logo ou
guardá-las para mais tarde.
Ora, um dia, vovô, que freqüentemente me acompanhava nessas romagens pelo mundo
das confeitarias, tirou o relógio do bolso e me disse com expressão firme, porém
sem nenhuma rispidez ou severidade:
– Vamos combinar uma coisa. Daqui para diante, quando você vier comprar bala,
vai ter de tomar a sua decisão antes que este ponteiro grande, que marca os
minutos, saindo de uma marca, chegue à seguinte. Estamos combinados?
Antes que eu concordasse, com muita paciência ele explicou-me que a vida não é,
afinal de contas, senão uma série contínua de escolhas. E explicou:
– É preciso tomar decisões prontas, mas, veja bem, sempre no firme entendimento
de que não vamos nos arrepender, caso a decisão redunde em mal para nós.
De começo, aqueles primeiros 59 segundos do minuto corriam antes que eu pudesse,
ao menos, respirar fundo e tomar a minha decisão.
O jogo durou alguns anos. Depois de certo tempo o meu processo mental já era tão
rápido que eu passei a tomar decisões acertadas com progressiva facilidade.
De valor não menor para mim foi a energia que adquiri – em cada caso – ao ter
consciência de que, depois de lançado o dado, nunca poderá haver
arrependimento...
Como nota o leitor, o pequeno texto acima transcrito – embora muito simples –
revela grandes verdades, aplicáveis à vida de qualquer pessoa. Além de ser um
texto que relata a postura de um educador, a circunstância apresentada ainda
conclui pela importância de assumir as conseqüências dos próprios atos, sem
arrependimentos.
Estas e outras lições, de grande caráter educativo, estão reunidas no belo livro
E, para o resto da vida, de Wallace Leal V. Rodrigues. E trata-se de obra
editada aqui mesmo em Matão, pela Casa Editora o Clarim. Para educandos e
educadores, fica a dica de uma obra valiosa que ficará na memória daqueles que
tiverem oportunidade de folhear suas páginas.
Orson Carrara