Jesus O Libertador

Havia uma grande expectativa em Israel, que aguardava ansiosamente o Messias anunciado.

A voz dos profetas, que ficara silencio­sa fazia alguns séculos, não alterara as notícias de que Jeová enviaria o libertador do Seu povo no momento adequado.

A presunção exagerada, que havia elegido como filhos de Deus somente os judeus, continuava na conduta arrogante daqueles que aguardavam receber o privilégio dos Céus em detrimento de toda a humanidade.

Descrevia-se a Sua chegada como o momento máximo da sua história de nação muitas vezes escravizada por outras mais poderosas, que então se curvariam humilhadas ante a grandeza da raça escolhida pela sua fidelidade e devotamento aos divinos códigos.

Antevia-se o momento da libertação, especialmente naqueles dias em que o Império Romano escarnecia das suas tradições e da sua liberdade, esmagando os seus ideais de independência.

Sentia-se mesmo que aquele era o momento, e que, em qualquer instante, os sinais de identificação apontariam o Escolhido.

Os sofrimentos vividos na Babilônia, no Egito e em outros lugares cruéis, no passado, não haviam sido esquecidos. Embora a coação prosseguisse e a miséria rondasse as suas vidas, estremunhando­as e dizimando-as, porque lhes retiravam tudo quanto possuíam, inclusive os parcos recursos, em razão dos impostos exorbitantes, não conseguiam, porém, tomar-lhes a esperança que teimava em permanecer nos seus corações.

Aguardava-se, portanto, que Ele chegaria em triunfo mundano, cercado de poder militar e de despotismo, de forma que vingasse as humilhações e dores que os Seus haviam experimentado através dos tempos.

Sentando-se no trono e governando com insolência e perversidade, somente àqueles que Lhe pertenciam concederia compaixão e bondade, ternura e amor, oferecendo-lhes os reinos da Terra, a fim de que pudessem fruir o poder e a glória anelados.

Esqueciam-se, porém, da transitoriedade da vida física e do impositivo da morte, que a todos arrebata, transferindo-os para a dimensão da imortalidade.

Por mais longos e prazenteiros fossem os dias de efusão e de orgulho, que esperavam viver, a fatalidade biológica os conduziria à velhice, ao desgaste, à consumação do corpo e ao enfrentamento com a Vida Eterna.

Mas Israel e seus filhos estavam interessados no mundo, nos negócios da ilusão, nas conquistas terrenas.

A mágoa e o desejo de desforço acalentados por séculos demorados, conseguiram diluir na vacuidade o discernimento em torno dos valores reais da existência humana.

Somente eram considerados o gozo e a supremacia sobre os demais povos, submetendo-os ao talante das suas desordenadas ambições.

A cegueira do orgulho envilecera os sentimentos do povo, não havendo lugar para a reflexão nem para o amor fraternal.

Ele veio e não O aceitaram.

Aguardavam um vingador que esmagasse os inimigos, enquanto Ele chegara para conquistar aqueles que se haviam transformado em adversários.

Esperavam que fosse portador de soberba, arbitrário e superior em crueldade àqueles que se fizeram odiados, mas Ele vivenciou o amor em todas as suas expressões, demonstrando que o Filho de Deus é lição viva de compaixão e misericórdia.

Em face das suas necessidades materiais, não poderiam receber o Embaixador do Reino de Deus, que vinha colocar os Seus alicerces na Terra, para erguer o templo da legítima fraternidade que deve viger entre todas as criaturas.

De início, antes da ira contra a Sua pessoa, desejaram arrastá-lO para as suas tricas farisaicas e para os seus domínios insensatos. E porque não conseguiram, voltaram-se contra Ele e Sua mensagem, perseguindo-O com insistência e ameaçando-O sem clemência.

Ele, porém, permaneceu integérrimo. A Sua tranqüilidade desconcertava-os, fazendo que arremetessem furibundos contra os ensinamentos de que se fazia portador e procurando um meio de envolvê-lO em algum conceito que O pudesse criminar, a fim de O matarem.

Encharcados de presunção, o único sentido para a vida centrava-se na busca do poder, do prazer, no vingar-se dos inimigos reais e imaginários.

Não é de estranhar que Jesus não lhes representasse o cumprimento das profecias.

Embora o Seu fosse o maior poder que a Terra jamais conheceu, os ambiciosos que desejavam o mundo não estavam interessados na Sua força incomparável, que se fazia soberana ante os ventos, as ondas do mar durante a tempestade, ou diante dos distúrbios da mente, da emoção e do corpo das criaturas que O buscavam.

Invejosos, não podendo negar-Lhe a grandeza, acusavam-nO de ser emissário do Mal, veículo satânico.

Jesus compadecia-se deles e exortava-os à liberdade espiritual, que é a verdadeira, conclamando-os ao despertamento para a realidade.

Mas os tóxicos do ódio haviam-nos envenenado desde há muito, não havendo espaço mental nem emocional para o refrigério da compreensão nem para a bênção da paz.

Ainda hoje Israel não O entendeu. Prossegue esperando o seu Messias dominador, banhando-se de sangue e sacrificando-se, enquanto os seus filhos estorcegam em reencarnações purificadoras e aflitivas através dos evos.

O amor, que é a solução para todos os problemas humanos e os conflitos que se abatem sobre a Terra, ainda não é reconhecido como o único recurso capaz de gerar felicidade nos corações.

Passaram aqueles dias tormentosos e outros muitos, enquanto Jesus permanece como o libertador de consciências, conduzindo-as no rumo da plenitude.

Neste Natal, recorda-te dEle e entrega-te a Ele sem qualquer relutância.

Ele te conduzirá com segurança pelo vale da morte e pela noite escura das paixões, apontando-te o amanhecer luminífero por onde seguirás no rumo da felicidade.


Joanna de Ângelis