O Cartaz

- Decididamente, o senhor não serve para o trabalho comercial. Desatende os que nos procuram. Foge aos horários. Discute sem razão. Perde tempo. E lança discórdia em casa... – era Frederico Figner, abnegado espírita e grande comerciante, que falava a empavonado rapaz à porta de conhecido cinema do Rio.

- Mas Sr. Figner – anotava o moço -, não é possível! Fui expulso de sua firma sem mais nem menos...

- Expulso, não – explicou o negociante, paternalmente -, o senhor foi convidado a seguir sua vocação e está pago pelos serviços que nos prestou, de conformidade com todos os seus direitos.

- Mas eu sou espírita – lamentou-se o ex-empregado.

Figner fitou o grande edifício junto ao qual conversavam, e disse: 

- Meu amigo, o rótulo é quase nada. Repare este majestoso prédio. Desde a primeira pedra na base até a última no alto, tudo é harmonia e disciplina. Mas note o cartaz à porta do cinema. A presença dele aqui não altera coisa alguma.


Hilário Silva