Exército de Estrelas
As mãos de Bezerra de Menezes, o Médico dos Pobres, foram na Terra as
fiandeiras da caridade. Trabalharam intensamente, desde o seu tempo de
estudante, em favor dos necessitados. E enquanto elas teciam a rede de socorro e assistência aos pobres, sem esquecer os ricos, para os quais usava a sua inteligência e a sua cultura, ele tecia sem querer e sem saber a sua própria túnica de luz para a vida espiritual.
Maria Dolores se inspira nessas mãos benditas para nos enviar a sua mensagem poética. E toda essa mensagem é um cântico de amor aos homens, chamando-lhes a atenção para a responsabilidade das mãos. Os que amam a poesia gráfica e portanto sensorial dos nossos dias, os hieróglifos da chamada poética de vanguarda, não gostarão dessas estrofes despretensiosas e lineares (porque racionais) da poetisa espiritual. Mas os que não se apegam à forma e procuram a
substância poética sentirão a música inaudível desses versos.
Os pintores nem sempre deram a devida importância às mãos de Jesus em seus
quadros. Mas um pintor paulista, Vicente Caruso, fez um quadro de Jesus em que a
mão se destaca. Todo o valor do quadro está naquela mão – apenas uma – em
posição vertical, revelando em suavidade e pureza a missão do Salvador. O médico
Dr. Silvio Marone escreveu um pequeno mas valioso ensaio sobre a psicologia das
mãos na Ceia de Da Vinci, analisando a linguagem das mãos. Essa linguagem se
traduziu mediunicamente nas materializações de mãos produzidas através do médium
Daniel Douglas Home, um “gentleman” escocês que se celebrizou pelo borboletear
das mãos em suas manifestações, embora nunca tenha sido espírita.
As mãos dizem o que somos, porque somos o que fazemos através delas. Podemos
semear a destruição e podemos semear o amor com as nossas mãos, mas devemos
lembrar que colheremos o que semearmos. Por isso, a poetisa quer inscrever as
suas mãos no exército de estrelas que luta na Terra em busca de Jesus.
Há um poema de Michel Quoist, muito divulgado, em que ele agradece a Deus os
braços e as mãos que nos deu, enquanto tantos existem sem braços. Refere-se
também aos outros membros e órgãos que possuímos, enquanto muitos não os
possuem. Maria Dolores não comete esse feio pecado de egoísmo. Ela sabe que os
mutilados de hoje recuperarão amanhã os membros perdidos e não devem ser
apontados como consolo egoísta para nós. Por isso, atém-se a louvar as mãos
benditas que trabalham na construção do bem. É como se nos dissesse: “Emprega
bem as tuas mãos, para que elas nunca te faltem”. E aos que não as possuem: “Quando recuperardes as mãos, empregai-as sempre no bem”.
Irmão Saulo