Sugestões Mentais
Em todos os planos que o homem amadurece, ele inscreve o êxito como seu ponto de chegada.
Por isso, o insucesso, tão frequente em todos os caminhos da existência,
geralmente se levanta por surpresa dolorosa que o acolhe num determinado ponto de suas realizações individuais ou coletivas, provocando-lhe enorme desalento, porque raramente o homem examina com frieza as adversidades naturais em toda e qualquer empresa.
Antevivendo a vitória, numa ruidosa manifestação íntima, espiritualmente está desajustado para as aparentes derrotas, as quais mais não são que avisos de retificação no caminho tomado, em função da necessidade de ascensão espiritual a que todos nos destinamos.
Ele também caíra, contra todas as suas expectativas menos otimistas, e estava
mergulhado nesse estado mental depressivo do desengano, sentindo o gosto
desagradável dos problemas.
Tentara reerguer-se e, contra todas as suas suposições, não conseguia
reencontrar-se na galeria os vencedores materiais, de que fora brusca e
inesperadamente alijado!
Tensão nervosa.., cólera... mágoa imensa! Espíritos obsessores encontraram as
portas de seu coração inteiramente abertas, com acesso facilitado, e ali
começaram a deitar a semente do suicídio, ampliando-lhe, a pouco e pouco, as
reflexões derrotistas. Parecia-lhe não haver nenhuma alternância a mais; nenhum
outro recurso para o equilíbrio... Diziam-lhe e mostravam-lhe o fracasso, mais o
fracasso, somente o fracasso!
Cada conversação que se suspendesse à sua chegada, ou sussurros que ele não
pudesse aclarar — pareciam-lhe criticas e punhaladas de ironia, que lhe
desfechavam em surdina.
Mas, ele lutava, tentando a reação. Era espírita convicto. Precisava vencer a
depressão mental resultante do amor-próprio ferido, da humilhação experimentada,
da falta de numerário até para condução coletiva!
E o obsessor surgiu-lhe à frente: — Você é espírita. Conhece bem as leis da
Espiritualidade. Pode, por razão de seus conhecimentos, do lado de cá, muito
mais facilmente do que aí, desembaraçar-se das dificuldades. Você não pode
deslustrar ou manchar a sua doutrina. Preferível é o suicídio nobre, o
sacrifício valoroso, para a que sua queda não venha macular o Cristianismo
Redivivo. Interrompe esta existência, e reiniciará outra depois de
retemperar-se! Afinal, Você sabe que temos aqui o Instituto de Recuperação dos
Suicidas Justificados...
Mas, ele sacudiu de si as insinuações.
Sabia — avivaram-lhe os Mentores Espirituais — que o suicídio jamais se
justifica, por ser uma deserção voluntária do cadinho de provas, as quais te
apresentam na pauta da Vida para testar-nos as aquisições incorporadas no
patrimônio do Espírito.
E sabia que, por conhecer o seu ponto de chegada na Vida Eterna e as leis que
regem a sua caminhada em direção do aperfeiçoamento espiritual, nada o
autorizava a aceitar o abandono das dificuldades.
Se desempenhava tarefas no Espiritismo-cristão, a Doutrina não sofreria pelos
problemas econômicos e financeiros que ele vivia, porque ela estava codificada
justamente para servi-lo em sua infância espiritual e para orientá-lo sempre, e
não para exigir-lhe o holocausto, em seu nome, qual se fora um Moloc a exigir o
sacrifício de vítimas para aplacar a sua biliosidade de gênio virulento do mal.
Caíram assim, as argumentações sutis, as sugestões mentais da Espiritualidade
inferior, aparentemente lógicas, mas que nunca resistem a uma análise fria
ajustada aos quadros reais do Cristianismo. E ele não se rendeu ao
desequilíbrio, com essa influenciação direta dos que intentavam envolvê-lo em
seu estado mental doentio, servindo-se do aviltamento de princípios eternos para
fazer o convite ao suicídio.
Fonte: Reformador – fevereiro, 1965
Roque Jacintho