Época Aflitiva
De todos os lados nos chegam os ecos dos gemidos e dos rumores
do ranger de dentes que caracterizam a época aflitiva que atravessamos.
Enquanto o mundo se ergue altaneiro e promissor irradiando as esperanças do
futuro, a velha humanidade eivada pelos prejuízos do passado, inabalável nos
seus propósitos, despenha-se pelo abismo da dor, que inevitavelmente a tragará.
E assim morre o “mundo velho” e nasce o “mundo novo”!
Na Europa, como na Ásia, na América, na África, o fogo das paixões se acende
cada vez mais, e países há em que já tomou a proporção de inextinguível
incêndio.
Mas também é crença popular que o “mundo” acabará pelo fogo!
Os homens, semelhantes às crianças, vêem bem o espetáculo que se desenrola no
mundo todo, mas essa visão não passa de visão ocular, sem acesso na inteligência
à revelia da razão, sem percepção do coração! E a visão passa, como passam os
panoramas que se reproduzem às nossas vistas em viagem.
Guerras, lutas, revoluções, assassinatos, suicídios, discórdias, dissensões,
divisões, ódios implacáveis, egoísmos inveterados, coisas nunca vistas e nunca
esperadas e nunca pensadas; terremotos, maremotos, tempestades, furacões,
atmosfera ardente, atmosfera gelada - o que é tudo isto, vindo de uma feita como
nunca veio, para quem não quer pensar, para quem não pretende deixar o círculo
vicioso da vida a que se adaptou, para quem se sente bem com o mal, para quem
não sente circular no músculo que traz dentro do peito as gotas do amor que
fazem do homem animal o homem espiritual, das vibrações do cérebro, os anseios
nobres que atraem a nós as Potestades do Além!
E assim o “mundo velho” com os seus erros e prevaricações, vai agonizando nos
estertores de uma morte lenta e irremediável, para surgir o “mundo novo” que já
se mostra aos obreiros atilados no cumprimento de suas promessas, como uma nova
terra e um novo céu onde habitará a Justiça.
Não há obra velha carunchosa e ruinosa que não se tenha de demolir, para dar
lugar a nova obra que seja de acordo com o progresso da época.
Remendo de pano novo em pano velho é trabalho inútil para quem faz e para quem
do pano quer se utilizar. Odres velhos não podem manter o vinho novo.
A época aflitiva que atravessamos é a crise de transformação porque passa o
nosso planeta, para se tornar um mundo habitável por homens de cérebro e de
coração, de espírito e de justiça, de verdade e de amor.
Os guerreiros, os assassinos, os dissensores, os orgulhosos, os egoístas, os
traficantes, os mercadores formarão as esquadras que arrastarão os seus
similares para outros planetas que careçam de suas luzes e necessitem do seu
progresso. E o nosso mundo em sua acentuada transformação para o Bem e para o
Belo, será dominado pelo Espírito, que já começa a vivificar muitas almas,
desvendando-lhes os arcanos da Imortalidade.
A época aflitiva que passamos é uma crise que já se tem prolongado muito, mas
cujos ecos de gemidos e ranger de dentes se acentuam de tal modo que, se de um
lado não podemos ver o seu fim, não será difícil prever a sua maior
intensificação para um desfecho que não está longe e será o início do reinado do
Espírito.
Praza o Senhor que a maré crescente não nos envolva em suas águas corrompidas, e
que cônscios dos nossos deveres não nos deixemos prender nas malhas dos
interesses bastardos e do amor próprio.
Redação da RIE