A Verdadeira Riqueza
Joana era uma menina que se considerava muito pobre. Gostaria de te coisas
bonitas como as outras crianças tinham, com tudo, seu pai operário de indústria, não ganhava o suficiente para comprar o que ela desejava. Quando Joana reclamava, sua mãe dizia:
- Tenha paciência, minha filha. As coisas vão melhorar.
Mas, quando? Quero ser rica! Poder comprar roupas, calçados, brinquedos e doces gostosos! – reclamava a menina, impaciente.
A mãezinha, com imenso carinho ponderava:
- Joana minha filha, a riqueza não está apenas no dinheiro.
– Não. ... Sempre ouvi dizer que rico é aquele que possui muito dinheiro!
– Pois não é verdade. Riqueza é tudo aquilo que temos em abundância. Assim, a
riqueza pode estar em muitas coisas. Por exemplo: podemos ser ricos de saúde, de
inteligência, de paz, de amor, de esperança, de fé... e também de dinheiro.
Podemos ser ricos de muitas coisas! Pense um pouco e descobrirá muito mais.
A menina pensou durante alguns momentos e continuou, seguindo a lógica materna:
-... de paciência, de compreensão, de boa vontade...
– Isso mesmo, minha filha. Vejo que você compreendeu. Então, nós somos
“realmente” pobres? Joana balançou a cabeça: - Não, mamãe. Só de dinheiro.
– Exatamente, minha filha. Jesus ensinou que devemos nos preocupar não com os
tesouros da Terra, que são perecíveis, mas com os tesouros do céu, que são os
únicos verdadeiros. Joana nunca mais tocou no assunto.
Algum tempo depois a situação da família ficou realmente difícil.
Os problemas com a falta de dinheiro fizeram com que o casal começasse a se
desentender e a brigar todos os dias. Muitas vezes faltava o que comer em casa e
sua mãe estava sempre irritada e descontente.
A harmonia do lar deixara de existir e Joana experimentava inquietação e
insegurança. Ela gostaria de ajudar os pais, mas não sabia como.
Certo dia Aurora e José chamaram a filha para conversar. Joana notou que o pai
estava triste com os olhos vermelhos. A mãe, tomando a palavra, explicou com
delicadeza:
- Joana querida, eu e seu pais a amamos muito, você sabe. Porém nem sempre as
coisas são como gostaríamos que fosse. A verdade é que tudo está muito difícil,
seu pai e eu não estamos nos entendendo mais e não suporto mais esta vida.
Enfim, resolvemos nos separar.
–Como assim? - perguntou a garota, assustada.
– Separação. Divórcio. Iremos morar em casas diferentes.
Eu vou para a casa da vovó e você ficará aqui com o papai, por causa da escola.
Quando terminar o ano, virei busca-la.
Joana estava perplexa. Seu mundo parecia estar desabando sobre sua cabeça. Não
se contendo mais, em prantos, exclamou:
- Agora seremos pobres! José, que se mantinha calado e de cabeça baixa, levantou
a fronte e, enxugando os olhos, indagou:
- O que disse, minha filha? – Que agora somos verdadeiramente pobres.
– Por que está dizendo isso, Joana? Não entendo!
– Mamãe sabe. Lembra-se, mamãe que algum tempo atrás estávamos conversando e
você dizia que podemos ser ricos de muitas coisas? Aurora abaixou a cabeça,
constrangida e envergonhada.
– É verdade, papai. Só que agora não seremos mais ricos de nada: nem de paz, nem
de compreensão, nem de esperança, nem de alegria, nem de amor...
A menina fez uma pausa e concluiu:- Só se formos ricos de solidão, de
infelicidade! Aurora e José trocaram um longo olhar.
Não foi preciso palavras para que se entendessem. Percebiam agora o mal que
estavam causando á filhinha. Por falta de entendimento entre eles, por egoísmo,
estavam tornando infeliz a coisa mais preciosa de suas vidas. Aurora pensou um
pouco e afirmou:
- Joana, para tudo a uma saída. Seu pai e eu vamos conversar e tentar resolver
nossos problemas com tolerância e compreensão. Pensar mais na família e menos em
nós mesmos. Pequenas coisas não podem destruir uma família como a nossa.
Mas foi preciso que você me lembrasse, porque eu tinha esquecido. – Então não
vai haver mais separação? – perguntou a menina, eufórica.
– Não querida. Graças á você! Joana pulou nos braços da mãezinha, feliz,
enquanto olhava para o pai que também sorria, aliviado:
- Ainda bem, mamãe porque você é meu maior tesouro.
Célia Xavier de Camargo