A Respeito da Necessidade de Controle Qualitativo

A leitura de O Livro dos Espíritos e das demais obras de Allan Kardec, revela que nessas obras há uma coerência e uma seqüência lógica que causam admiração.

Como bem elucida o organizador desse monumental trabalho, Allan Kardec, tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns psicógrafos. Nós mesmos, diz ele, preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que nos deram os Espíritos.

Claro fica que o trabalho exigiu controle qualitativo esmerado de conteúdo, de forma e de conveniência para que fosse publicado. E é a esse respeito, que compilamos as assertivas que seguem, tidas como princípios por Kardec, as quais elucidam a respeito dos controles e demais critérios que foram observados em todos os trabalhos do Codificador de O Livro dos Espíritos e demais obras da Doutrina Espírita, demonstrando o zelo rigoroso com tudo o que foi publicado.

DO CONTROLE QUALITATIVO
“O primeiro controle é, sem sombra de dúvida, o da razão, à qual é preciso submeter, sem exceção, tudo quanto vem dos Espíritos”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1864, abril.)

“Por maior que seja a legítima confiança que vos inspiram os Espíritos que presidem aos vossos trabalhos, é recomendação nunca por demais repetida que deveis ter sempre presente em vossa mente, quando vos entregardes aos vossos estudos: pesai e refleti; submetei ao controle da razão a mais severa todas as comunicações que receberdes...” (Espírito Luís, Revista Espírita, 1859, setembro.)

“A força do Espiritismo não reside na opinião de um homem ou de um Espírito; está na universalidade do ensino dado por estes últimos; o controle universal, como o sufrágio universal, resolverá no futuro todas as questões litigiosas; fundará a unidade da doutrina muito melhor que um concílio de homens”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1864, maio.)

DOS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO E PUBLICAÇÃO
“(...) Há comunicações que podem prejudicar essencialmente a causa que querem defender, em escala muito maior que os grosseiros ataques e as injúrias de certos adversários. Se algumas fossem feitas com tal objetivo, não teriam melhor êxito”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1859, novembro.)

(...)Publicar sem exame, ou sem correção, tudo quanto vem dessa fonte, seria, em nossa opinião, dar prova de pouco discernimento”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1859, novembro.)

“Aplicando esses princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas 100 de um mérito inconteste. Essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes.

Inferimos que a proporção deve ser mais ou menos geral. Por aí pode julgar-se da necessidade de não publicar inconsideradamente tudo quanto vem dos Espíritos, se quiser atingir o objetivo a que nos propomos, tanto do ponto de vista material quanto do efeito moral e da opinião que os indiferentes possam fazer do Espiritismo”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

“(...) Todas precauções são poucas para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

DO CONTEÚDO
“(...) Uma coisa pode ser excelente em si mesma, muito boa para servir de instrução pessoal; mas o que deve ser entregue ao público exige condições especiais. Infelizmente o homem é inclinado a supor que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros. O mais hábil pode enganar-se; tudo está em enganar-se o menos possível”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

DA FORMA

“(...) No mundo invisível como na Terra, não faltam escritores, mas os bons são raros”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

“(...) Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebeis; aceitai o que a razão não recusar, repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de as ver desnaturadas, as verdades que separáveis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros”. (Santo Agostinho, Revista Espírita, 1863, julho.)

DA SELEÇÃO
“Em resumo, publicando comunicações dignas de interesse, faz-se uma coisa útil. Publicando as que são fracas, insignificantes ou más, faz-se mais mal do que bem. Uma consideração não menos importante é a da oportunidade. Umas há cuja publicação é intempestiva e, por isso, prejudicial. Cada coisa deve vir a seu tempo. Várias delas que nos são dirigidas estão neste caso e, posto que muito boas, devem ser adiadas. Quanto às outras, acharão seu lugar conforme as circunstâncias e o seu objetivo”. (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

ADVERTÊNCIA SOBRE A ORIGEM DOS TEXTOS
“É urgente que vos ponhais em guarda contra todas as publicações de origem suspeita, que parecem, ou vão parecer contrárias a todas as que não tiverem uma atitude franca e clara, e tende como certo que muitas são elaboradas nos campos inimigos do mundo visível ou no invisível, visando a lançar entre vós os fachos da discórdia. Cabe-vos não vos deixar apanhar. Tendes todos os elementos necessários para as apreciar”. (Espírito Erasto, Revista Espírita, 1863, dezembro.)


Matéria publicada no Jornal Mundo Espírita :: março/2007


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