Antipatias
Eis aqui sua pergunta,
Minha prezada Lilia:
De que modo liquidar
A força da antipatia.
Você sabe. Antipatias
Na sombra espessa em que estão
Aparecem de improviso,
Quase sempre sem razão.
O assunto chega de longe,
Parece graves feridas,
Moléstias do pensamento
Que trazemos de outras vidas.
Comumente, a novidade
É cousa que nos alcança,
Quando alguém de encontro novo
Não nos causa confiança.
Aumentam-se gentilezas,
Seja no lar ou na rua,
Mas a repulsa por dentro
É sombra que continua.
Aí, é a doença antiga
Que nem sempre vem à face,
Veneno desconhecido,
Ódio velho que renasce.
Declarada a enfermidade,
Usemos, de modo atento,
O remédio da oração
Que nos traga o esquecimento.
Depois da prece que extinga
Esse mal que nos invade,
Procuremos o exercício
Da paz e da caridade.
Meditemos no passado...
Que teria acontecido?
Quem nos impõe desagrado
Talvez nos haja ferido.
Ou talvez, sejamos nós,
Segundo o reto pensar,
OS causadores da sombra
Com culpas a resgatar.
Por isso, quando apareça
Algum inimigo à frente,
Peçamos a Deus nos dê
Compaixão que ajude a gente.
Por vezes, quem nos pareça
Dose de cobra ou leão
É uma pessoa cansada
De espinhos no coração.
Terá sido noutras eras
Terrível perseguidor,
Hoje, às vezes, é um pedinte
De compreensão e de amor.
Quando você ache alguém
Que o peito lhe aflige ou tranca,
Pensa em Cristo, ore com calma
E evite qualquer carranca.
Pelos caminhos da vida
A presença da aversão
É sempre a hora difícil
De regresso à provação.
E quando a prova ressurge,
Queira ou não queira acertar
Deus nos coloca, Lilia,
No tempo de perdoar.
Cornélio Pires