Crenças e Certezas

As crenças em geral, compreendendo as religiões, as filosofias e até as crendices, dirigem, em grande proporção, as ações e os sentimentos humanos.

A razão e a inteligência podem fortalecer ou enfraquecer a natureza do que se tornou aceito pelo espírito, mas dificilmente destroem os princípios admitidos desde a infância.

Essa realidade torna patente a importância, para o Espiritismo, de cuidar do ensino da Doutrina e da evangelização da infância e da juventude, eis que, por mais rebelde seja a criança ou o jovem, sempre permanecem as sementes assimiladas pelo ser, que germinarão cedo ou tarde.

Todos sabemos da importância da instrução que se processa nas escolas do mundo. Todavia, mais que a instrução, a educação moral é que verdadeiramente modifica e transforma o indivíduo.

Quando se atenta para o fato de que os ensinos morais do Cristo, integralmente adotados pela Doutrina dos Espíritos, são o mais alto estágio ético-moral conhecido na Terra, logo se percebe quão importante é, para o indivíduo e para a sociedade, seu conhecimento e sua vivência.

A modificação profunda da organização social no mundo é uma necessidade aceita pela generalidade das nações. Mesmo os indiferentes, que se preocupam somente com seus interesses imediatistas, não se oporiam a que a miséria física e moral de milhões de criaturas encontrasse solução justa.

Extinguir a corrupção de variados matizes, que se enraíza nos órgãos governamentais e nos usos e costumes de todos os povos é aspiração da imensa maioria da população terrena.

Pôr cobro ao crime e à violência, espalhados por todas as camadas sociais, é o anseio e a finalidade daqueles que desejam viver em um mundo mais justo e solidário.

Educação para todos, instrução generalizada, prevenção e tratamento das doenças, qual a sociedade organizada que não desejaria pôr em prática esses bens sociais?

As leis humanas, orientadas no sentido do bem geral, são poderoso instrumento no aperfeiçoamento do meio social, mas não são capazes de contornar as paixões inferiores do homem, muito menos eliminá-las.

Pela sua própria natureza, as leis são repressivas de determinadas práticas nocivas, sem poder de destruição de suas causas, que estão no homem deseducado ou ignorante. A legislação procura reprimir grandes males, mas o homem deseducado busca sempre uma brecha para fugir à responsabilidade de conviver harmoniosamente no meio social.

Em suma, o característico essencial das leis humanas é o de catalogar as infrações, o mau proceder, o crime, as atitudes anti-sociais e inconvenientes, quando não são instrumentos de interesses pessoais e grupais.

Já a Lei Divina, da qual tomamos conhecimento através das grandes revelações, em especial a Mensagem do Cristo, tem caráter positivo, no sentido de indicar ao homem o que deve fazer para agir corretamente. São normas de comportamento que não só evitam o procedimento negativo, contrário à Lei de Deus, como descortinam o caminho da felicidade, fundamentada no Amor.

Enquanto nas leis humanas se cuida da superfície, na repressão aos males, vícios e paixões, a Lei Divina vai diretamente às causas do mal - o egoísmo, o orgulho e seus consectários -, mostrando como combatê-las, através da transformação moral, do bem-proceder, do caminho justo, sem desvios.

Portanto, o grande remédio para a transformação das sociedades humanas está na reeducação do homem, segundo as regras e normas que Jesus, o grande Pedagogo da Humanidade, preconiza em seu Evangelho.

As instituições humanas refletirão sempre o que são os próprios homens. Por mais belas que sejam suas aspirações, por mais altanados sejam seus ideais, se os homens permanecerem egoístas e deseducados moralmente as instituições falharão.

Exemplo claro temos na Organização das Nações Unidas, idealizada após o grande conflito mundial da guerra de 1939-1945.

Esse organismo internacional contém, na letra de seus estatutos, o mais puro ideal de paz entre as nações. A Declaração dos Direitos do Homem expressa o que de mais edificante poderiam os idealistas imaginar para a defesa da criatura humana, no estágio em que chegou a civilização do século XX. A proscrição da violência, o direito à vida, à liberdade de pensamento, à educação, à saúde estão expressos nesse documento que honra seus autores, tacitamente aceito por todas as nações.

Entretanto, continuam os conflitos armados entre diversas nações, os bolsões de miséria no mundo inteiro são uma triste realidade, os crimes são uma constante por toda parte e o desrespeito aos direitos declarados constitui problema comum.

Por que essa antinomia entre o ideal e a prática, entre a instituição e a execução de seus princípios?

Simplesmente porque o homem de todas as latitudes não está educado para viver sob as regras da instituição magnífica, que se torna inoperante, apesar do esforço dos idealistas. Nesse caso, os maus, os mal-educados, os egoístas, os orgulhosos incumbem-se de desrespeitar as normas estabelecidas, para atender seus interesses imediatos.

A grande solução está na educação de todos. Educação moral, com conhecimento das causas dos males. Essa solução, embora lenta e difícil, é o único caminho.

A imperfeição moral e a ignorância a respeito das realidades espirituais são características dos habitantes dos mundos atrasados como o nosso, por isso mesmo destinados à evolução através de sofrimentos, provações e expiações. Mas isso não quer dizer que suas populações não possam alcançar melhores condições de vida, através da educação e da regeneração moral.

Cada indivíduo que se regenera, que se transforma moralmente para melhor, está contribuindo para o progresso do mundo. O progresso geral é, pois, resultante da soma das melhorias individuais. Ora, se a evolução é possível para um, para um grupo, será possível também para todo o gênero humano.

O progresso humano, com a regeneração do Orbe, está profundamente vinculado à crença na vida futura, nos seus processos, no seu desdobramento.

Que se poderia esperar da descrença, do niilismo, do materialismo que conduzem ao nada?

Como induzir o materialista a aceitar a continuação da vida após a morte do corpo, se ele não aceita a existência do Espírito?

De outro lado, como mostrar ao espiritualista que há uma justiça infalível para todos, se ele vê à sua volta aparentes injustiças a clamarem contra os Céus, sem compreender os mecanismos das Leis Divinas?

Essas questões, por si sós, mostram a necessidade de se levar ao conhecimento dos descrentes e dos induzidos ao erro religioso ou filosófico as luzes da Doutrina do Consolador, nos seus aspectos esclarecedores das realidades da vida.

A crença na existência do Espírito imortal transformou-se em certeza, com a rica fenomenologia espírita ao alcance de quem se disponha a observá-la.

A reencarnação, ou doutrina das vidas sucessivas, conhecida há milênios, explica com detalhes o processo da lei de causa e efeito, da ação e da reação e da justiça natural.

Toda essa riqueza de conhecimentos que nos veio através das revelações, sintetizados nos princípios fundamentais da Doutrina dos Espíritos, não é patrimônio de uma minoria, mas de toda a Humanidade.

Daí a responsabilidade que cabe aos espíritas de levarem esses conhecimentos a todas as camadas sociais, a todos os povos e nações, a todos os homens.

São conhecimentos que libertam o Espírito eterno da escravidão da ignorância, tornando-o apto a compreender os mecanismos da vida e suas realidades imanentes.

A fé e a esperança no porvir não podem ser cultivadas por criaturas cuja visão não ultrapassa a vida presente e cujo interesse se circunscreve às atividades materiais.

Sociedades modernas, fortemente influenciadas pelo niilismo e pelo materialismo, por terem falhado as religiões tradicionais com seus dogmas impróprios, são sociedades profundamente egoístas que vivem em constantes lutas de classes, em detrimento dos mais altos interesses da coletividade.

Ao atraso moral soma-se o desconhecimento da continuidade da vida e da responsabilidade individual pelas próprias ações, gerando o descalabro da falta de solidariedade e de fraternidade.

Reverter esse quadro triste da civilização atual é a grande tarefa da Doutrina dos Espíritos, na sua mais alta função: preparar a sociedade para a Era do Espírito.

A missão gigantesca do Espiritismo mostra a necessidade de sua propagação, de sua difusão por toda parte, para que seus princípios sejam conhecidos, não mais como simples crença, mas como realidade e certeza irrecusáveis.


Fonte: Reformador nº2000 - Novembro/1995


Juvanir Borges de Souza