Rotina

Alma querida, às vezes, chora
Na rotina que acolhes por dever
Pelo frio das horas
Que o relógio te aponta
No que tens a fazer.

É a profissão que te reclama tempo,
É o lar, pedindo-te atenção,
Através de pequenos compromissos,
E o tempo voa
Qual dádiva do Céu que passa em vão.

Mas a rotina inclui outros problemas:
É o carinho de alguém que chega de improviso,
É o amigo que vem
Recordar quanto é preciso
Trabalhar para o bem.

É o parente que chega para confidências,
Largou-se do trabalho por minutos,
Num estreito intervalo.
Fala das provações que está sofrendo
E faz-se imprescindível conforta-lo.

E o dia passa nas tarefas
E nos encontros com que não contavas...
O Sol se foi e eis que a sombra se inclina
Por toda a casa e ouço-te o lamento:
- “Como é triste a rotina!”

Entretanto, alma irmã, ainda hoje,
Pude cumprimentar pessoas generosas
Aturdidas por amargura imensa...
Desejam trabalhar mas não conseguem,
Algemadas ao peso da doença.

Acompanhei equipes de visita
Aos irmãos que tateiam livros, vasos, flores,
Segregados em rude solidão...
Anseiam abraçar amigos que aparecem
Mas estão cegos de visão.

Diversos companheiros vi de perto,
Mostrando no silêncio
Raciocínios agudos...
Pretendem dialogar, trocando idéias,
Entretanto, estão mudos.

Abeirei-me de muitas criaturas
Em estradas e ermos esquecidos
Aguardando o socorro que não vem...
Recordam com saudade os entes que mais amam
E não surge ninguém!...

Reflete nos irmãos, em grandes provas,
Que vivem sem a mínima esperanças,
Da esperança que adoça os dias teus...
E, louvando a rotina que te guarda,
Rende graças a Deus!...


Maria Dolores