Desejo que Meus Sofrimentos Acabem
O diálogo a seguir transcrito, embora parcialmente, está na Revista Espírita
de dezembro de 1860. Um dos assinantes da Revue Spirite o remeteu para Allan
Kardec, que o publicou com o título Educação de Um Espírito. Transcrevemos
apenas um pequeno trecho do diálogo e sugerimos ao leitor conhecê-lo na íntegra:
"(...) 12 - Então! Já que acreditas em Deus, deves ter confiança em sua
perfeição e em sua bondade. Deves compreender que Ele não fez suas criaturas
para as votar à desgraça; que se são infelizes é por sua própria culpa, e não
pela Dele; mas que elas sempre têm meios de melhorar e, conseqüentemente, chegar
à felicidade; que Deus não fez suas criaturas inteligentes sem objetivo e que
esse objetivo é fazer que todas concorram para a harmonia universal: a caridade,
o amor ao próximo; que a criatura que se afasta de tal objetivo perturba a
harmonia e ela própria é a primeira vítima a sofrer os efeitos dessa perturbação
que causa. Olha em torno de ti e acima de ti: não vês Espíritos felizes? Não
tens o desejo de ser como eles, já que dizes que sofres? Deus não os criou mais
perfeitos do que tu; como tu, talvez tenham sofrido, mas se arrependeram e Deus
lhes perdoou; tu pode fazer como eles. - Começo a ver e a compreender que Deus é
justo; eu ainda não tinha visto. És tu que me vens abrir os olhos. (...)
19 - (...) Desejo que meus sofrimentos acabem; eis tudo. (...)
20 - Compreendes que de ti depende que eles acabem? - Compreendo.(...)".
O mais interessante é que os argumentos apresentados pelo dialogador encontram
eco em recente proposta da UNESCO (órgão da ONU), intitulada Educação, um
tesouro a descobrir. Trata-se de valioso documento norteador para pessoas,
instituições e nações que vêem na ação educacional o caminho do real progresso
das sociedades em particular e da humanidade. É material para graves reflexões.
E, no capítulo 4, da parte II, encontramos o título: Os 4 pilares de uma
educação para o século XXI. Tais pilares identificam-se perfeitamente com as
máximas de Jesus e, obviamente, com a proposta espírita. São os seguintes:
1.
- Aprender a conhecer (como a abertura para o novo, o processo contínuo de
pesquisar, observar, sentir, esforço intelectual, atitude permanente de busca),
que identifica-se perfeitamente com a proposta de Jesus: Conhecereis a verdade e
ela vos libertará - (João 8:32). É a libertação da ignorância, em quaisquer
áreas do conhecimento humano;
2.
- Aprender a fazer (é a coragem de executar, de correr riscos, de errar na busca
de acertar), perfeitamente identificada com a proposta do Evangelho: faze isso e
viverás (Lc 10:28); É o sair da acomodação que normalmente caracteriza o
comportamento humano;
3.
- Aprender a conviver (é o respeito pelas diferenças, é o intercâmbio de idéias,
é a convivência pacífica), também identificada com o convite de Jesus: Fazei aos
outros o que gostaríeis que eles vos fizessem (Mt 7:12); É o "vencer-se" a si
mesmo, vencer essa animosidade crônica dos relacionamentos, e interromper a
tendência egoística de desmerecer o esforço alheio. O que naturalmente requer o
esforço do auto-aprimoramento.
4.
- Aprender a Ser (É o "entrar" na posse da herança divina, própria, que todos
trazemos, conscientizando-nos de nossa condição de espíritos imortais, é ainda a
auto-superação, o crescimento espiritual). Tal proposta identifica-se com a
afirmação de Jesus: Sede Perfeitos (Mt. 5:48).
Notem os leitores, refletindo sobre os quatro itens acima apresentados, que aí
estão as propostas ideais para a felicidade humana. É na ignorância, em seu
amplo sentido, que se situam as causas das aflições, dos sofrimentos. Então,
aprendamos desde já a exercitar as ferramentas do conhecer, do fazer, do
conviver e do ser.
Nota do autor: A presente matéria está baseada no artigo OS QUATRO PILARES DA
EDUCAÇÃO PARA O SÉCULO XXI E O EVANGELHO, de autoria de SANDRA BORBA PEREIRA -
Mestre em Filosofia e Pedagoga da UFPE, bem como Professora da UFRN, com grande
experiência na educação de jovens, publicado no jornal MUNDO ESPIRITA (de
Curitiba-PR) , de novembro de 2002, também disponível no site
www.mundoespirita.com.br
Matéria publicada originariamente no jornal O CLARIM, edição de maio de 2005.
Orson Carrara