Conversa na Assistência
- É tudo inveja!...
Dona Bininha desabafava, exaltada, com a amiga Salete. Era colaboradora assídua
da instituição beneficente. Trabalhava. Agia. Ajudava. Tinha, porém, o costume
de falar o que não devia. Naquela oportunidade, estava magoada com uma das
companheiras.
- Calma, Bininha – retrucava a amiga – Temos que ser tolerantes uns com os
outros. Cada um tem a sua tarefa.
A conversa acontecia no galpão da assistência, onde ambas ocupavam um banco mais
afastado. Dezenas de pessoas aguardavam auxílio. Crianças; velhos; mães com
bebês no colo.
Dona Bininha, contudo, não se conformava e, fazendo uma careta, prosseguiu:
- Ninguém faz tanta caridade, quanto eu. E aquela invejosa, o que faz? Vive de
pintura no rosto e vestido da moda. Conversa o tempo todo. Fica exibindo-se,
acha que sabe tudo...
Nesse momento, Salete interrompeu-lhe o discurso ressentido e argumentou:
- Bininha, reconhecemos o valor de seu trabalho, presente em todos os setores de
nossa instituição. Realmente você faz muita caridade, mas falta uma...
A colaboradora levantou-se de um salto. Colocou as mãos na cintura e, num tom de
voz que misturava curiosidade e surpresa, perguntou, irritada:
- E qual é? – A amiga sorriu com bondade e respondeu, calmamente:
- É a caridade da língua!...
Hilário Silva