O Maior Trono
No limite de dois mundos, a divina justiça suspendeu um berço. Entre as
fronteiras de duas civilizações instalou o presepe como um sinal de renovação
magnífica. Do passado coberto de lendas até à hora em que Belém devia receber no
regaço o máximo profeta de todos os tempos, vai uma grande noite.
Daí por diante, começou a humanidade a pressentir as maravilhas que lhe cabem no
destino dos seres.
Os sábios dividem a história em várias seções. É uma forma de simplificação para
que se possa abranger, em quadros sucessivos, o desfilar dos povos através das
idades. Sob o aspecto moral, porém, a evolução coletiva apresenta apenas estes
hemisférios: a antigüidade pagã agachada aos pés dos deuses e a nova era
instituída com a beleza imponente das lições de Jesus. A primeira delas, toca ao
zênite da perfeição.
É um hino de humildade: comove e edifica até as naturezas mais rebeldes. O rei
das celestes virtudes, para surgir na terra, desdenhou arminhos, esqueceu a
púrpura dos palácios, o fastígio de todas as opulências. Não aceitou homenagens
mais expressivas do que as cândidas efusões dos pastores: como se, desde o
princípio, quisesse logo significar que vinha para os simples, visto os soberbos
não se disporem nunca a ouvir as revelações da vida eterna que Deus manda
proclamar pela boca de seus mensageiros.
Jesus nasceu quase ao relento. Mas na singeleza das palhas que aqueceram o corpo
infantil do Mestre amado, há mais brilho, mais grandeza, mais amor do que em
todos os tronos edificados sobre a ambição dos potentados.
Texto publicado no início dos anos 20
Vianna de Carvalho