A Comunicação
Define-se comunicação como a ação de comunicar, informar,
avisar, dar a conhecer. Processo necessário ao relacionamento e progresso da
humanidade, foi usado de forma rudimentar nos primórdios da evolução e atinge
atualmente patamares inimagináveis no passado. Desde a simplicidade do telégrafo
ao rádio até a velocidade da Internet, a comunicação tem papel decisivo na vida
humana.
Em dados de 1999(1)havia no Brasil 371 jornais de circulação diária, 38 milhões
de domicílios com aparelhos de TV, 215.000 sites na Internet, quase 3.000
emissoras de rádio AM/FM (com 90% dos brasileiros dispondo de acesso ao rádio),
um número considerável de revistas semanais ou mensais, 6 emissoras de TV aberta
e suas milhares de retransmissoras, entre outros dados na área de informação que
colocam à vista o patrimônio cultural da comunicação.
Quando se usa a expressão comunicação no ambiente espírita, pensa-se logo nos
variados meios da manifestação mediúnica. É claro que não deixa de ser também
comunicação, pois trazem também muita informação, instruem, ensinam, educam...
Mas a comunicação espírita não se restringe à manifestação dos espíritos. Ele
vai além, com o próprio conteúdo da Codificação, suas obras complementares e a
natural continuidade das instruções que chegam do Plano Maior, a exigir nossa
atenção, prudência e contínuo estudo.
Isto pede o interesse pelo estudo e divulgação, convidando aos esforços pelo
espalhar da mensagem espírita.
Em O Livro dos Espíritos (2), no item VI da Introdução, encontramos o comentário
de Kardec sobre o caráter das comunicações com os espíritos - que podem ser
ocultas (pela influência que exercem com o nosso desconhecimento) ou ostensivas
(pelas variadas formas de manifestações). Já no comentário à resposta da
pergunta 973, o Codificador mostra os resultados dessas comunicações,
colocando-nos cientes das realidades da vida além da morte. Em outra obra, em O
Livro dos Médiuns (2) (capítulo X, NA 2ª parte), podemos encontrar a
classificação das comunicações dos espíritos, dividas em grosseiras (que chocam
a decência), frívolas (levianas), sérias (úteis sob vários aspectos) e
instrutivas (que visam um ensinamento).
Porém, dentro das narrações do Evangelho e dos inúmeros exemplos que apresentam
- na área da comunicação, extraímos um deles como exemplo para ilustrar a
importante questão da comunicação, objetivo deste artigo.
Na visão de Ananias (de Atos dos Apóstolos, cap. IX, v.v.10 - 19), citada por
Emmanuel no monumental Paulo e Estevão (3), recebendo a visita de Jesus pela
visão e audição para informar-lhe sobre a situação de Saulo em Damasco, temos
magnífico exemplo de comunicação vital para a transformação de um homem. Saulo
fora informado para aguardar em Damasco sobre o que fazer - após o episódio da
também visão do Mestre na entrada de Damasco, quando visava a prisão do mesmo
Ananias. O processo de comunicação* foi completo.
Cairbar Schutel em seu livro Vida e Atos dos Apóstolos (4), comenta com muita
propriedade que "(...)O trabalho de Ananias se limitaria a restituir a vista ao
novo discípulo? Certamente que não. A missão de Ananias foi muito superior a
esta. O principal escopo de Jesus, enviando Ananias a Saulo, foi fazê-lo
confirmar a manifestação de Damasco, foi dar sanção à conversão iniciada na
Estrada (...)".
No não menos valioso livro Cristianismo e Espiritismo(5), de Léon Denis, já em
sua introdução encontramos à página 11, 3º parágrafo: "Para quem quer que
observe atentamente as coisas, os tempos que vivemos estão carregados de
ameaças. Parece brilhante a nossa civilização, e, todavia, quantas manchas lhe
obscurecem o esplendor! O bem-estar e a riqueza se têm espalhado, mas é acaso
por suas riquezas que uma sociedade se engrandece? O objetivo do homem na terra,
é, porventura, levar uma vida faustosa e sensual? Não! Um povo não é grande, um
povo não se eleva senão pelo trabalho, pelo culto da justiça e da verdade.
(...)" E prossegue nas páginas seguintes:
"(...) Contra essas doutrinas de negação e morte falam hoje os fatos. Uma
experimentação metódica, prolongada, nos conduz a esta certeza: o ser humano
sobrevive à morte e o seu destino é obra sua. (...) Todos, por esse meio,
compreenderão que a vida tem um objetivo, que a lei moral tem uma realidade e
uma sanção; que não há sofrimentos inúteis, trabalho sem proveito, nem provas
sem compensação, que tudo é pesado na balança do divino Justiceiro.(...)"
Considerando que a meta da Doutrina Espírita, através de seus fundamentos, é o
despertamento para os valores morais e éticos; o aperfeiçoamento moral da
humanidade - através da lei do amor e no combate ao egoísmo, ao orgulho e seus
derivados; a evolução moral do planeta, promovendo a fraternidade nos dois
planos existenciais, vale pensar que:
1. Somente o estudo continuado da Doutrina Espírita pode garantir uma
comunicação (e por extensão sua divulgação) coerente com sua proposta;
2. O julgamento prévio (de pessoas, situações, instituições ou ideologias) é a
maior barreira da comunicação;
3. Temos um conhecimento útil para a humanidade, que pode combater eficazmente a
pressão sócio-cultural negativa que tenta dominar o planeta.
Queremos construir uma sociedade melhor! Que estamos esperando?
*No processo de comunicação temos um transmissor e um receptor da informação e
entre eles um canal. Como característica de um bom comunicador temos o perfil de
um bom observador. Por sua vez, a qualidade da comunicação é avaliada pelo
receptor. Observem os leitores na qualidade dos personagens envolvidos na
questão, em vista da qualidade da informação e da recepção da mesma informação.
(1)Almanaque Abril 2000, Edit. Abril;
(2)Edições FEB;
(3)Psicografia de Chico Xavier, edição FEB;
(4)9ª edição - Editora O Clarim;
(5)8ª edição FEB, tradução de Leopoldo Cirne.
*Publicado na revista REFORMADOR, de fevereiro de 2003.
Orson Carrara