Carga Erótica
Dois sistemas se defrontam: o dos ascetas, que tem por base o
aniquilamento do corpo, e o dos materialistas, que se baseia no rebaixamento da
alma.
Duas violências quase tão insensatas uma quanto a outra.
Ao lado desses dois grandes partidos, formiga a numerosa tribo dos indiferentes
que, sem convicção e sem paixão, são mornos no amar e econômicos no gozar.
Onde, então, a sabedoria? Onde, então, a ciência de viver? Em parte alguma; e o
grande problema ficaria sem solução, se o Espiritismo não viesse em auxílio dos
pesquisadores, demonstrando-lhes as relações que existem entre o corpo e a alma
e dizendo-lhes que, por serem necessários uma ao outro, importa cuidar de ambos.
Amai, pois, a vossa alma, porém, cuidai igualmente do vosso corpo, instrumento
daquela.
Desatender às necessidades que a própria Natureza indica, é desatender a lei de
Deus.
Não castigueis o corpo pelas faltas que o vosso livre arbítrio o induziu a
cometer e pelas quais é ele tão responsável quanto o cavalo, mal dirigido, pelos
acidentes que causa.
Sereis, porventura, mais perfeitos se, martirizando o corpo, não vos tornardes
menos egoístas, nem menos orgulhosos e mais caritativos para com o vosso
próximo? Não, a perfeição não está nisso, está toda nas formas por que fizerdes
passar o vosso Espírito.
Dobrai-o, submetei-o, humilhai-o, mortificai-o: esse o meio de o tornardes dócil
à vontade de Deus e o único de alcançardes a perfeição.
Do item 11, do Cap.
XVII, de "O Evangelho Segundo o Espiritismo".
O instinto sexual, exprimindo amor em expansão incessante, nasce nas profundezas
da vida, orientando os processos da evolução.
Toda criatura consciente traz consigo, devidamente estratificada, a herança
incomensurável das experiências sexuais, vividas nos reinos inferiores da
Natureza.
De existência a existência, de lição em lição e de passo em passo, por séculos
de séculos, na esfera animal, a individualidade, erguida à razão, surpreende em
si mesma todo um mundo de impulsos genésicos por educar e ajustar às leis
superiores que governam a vida.
A princípio, exposto aos lances adversos das aventuras poligâmicas, o homem
avança, de ensinamento a ensinamento, para a sua própria instalação na
monogamia, reconhecendo a necessidade de segurança e equilíbrio, em matéria de
amor; no entanto, ainda aí, é impelido naturalmente a carregar o fardo dos
estímulos sexuais, muita vez destrambelhados, que lhe enxameiam no sentimento,
reclamando educação e sublimação.
Depreende-se disso que toda criatura na Terra transporta em si mesma determinada
taxa de carga erótica, de que, em verdade, não se libertará unicamente ao preço
de palavras e votos brilhantes, mas à custa de experiência e trabalho, de vez
que instintos e paixões são energias e estados inerentes à alma de cada um, que
as leis da Criação não destroem e sim auxiliam cada pessoa a transformar e
elevar, no rumo da perfeição.
Fácil entender, portanto, que do erotismo, como fator de magnetismo sexual
humano, na romagem terrestre, seja em se tratando de Espíritos encarnados ou
desencarnados na Comunidade Planetária, não partilham tãosomente as
inteligências que já se angelizaram, em minoria absoluta no Plano Físico, e
aqueles irmãos da Humanidade provisoriamente internados nas celas da idiotia,
por força de lides expiatórias abraçadas ou requisitadas por eles próprios,
antes do berço terreno.
Os Espíritos sublimados se atraem uns aos outros por laços de amor considerado
divino, por enquanto inabordáveis a nós outros, seres em laboriosa escalada
evolutiva e que compartilhamos das tendências e aspirações, dificuldades e
provas do gênero humano.
E os companheiros temporariamente bloqueados por cérebros deficientes e obtusos
atravessam períodos mais ou menos longos de silêncio emocionados, destinados a
reparações e reajustes, quase sempre solicitados por eles mesmos - repetimos -,
já que se sentenciam a entraves e inibições, no campo de exteriorização da
mente, através dos quais refazem atitudes e recondicionam impulsos afetivos em
preciosas tomadas e retomadas de consciência.
À vista do exposto, é fácil reconhecer que toda criatura humana, sempre nascida
ou renascida sob o patrocínio do sexo, carreia consigo determinada carga de
impulsos eróticos, que a própria criatura aprende, gradativamente, a orientar
para o bem e a valorizar para a vida.
Diante do sexo, não nos achamos, de nenhum modo, à frente de um despenhadeiro
para as trevas, mas perante a fonte viva das energias em que a Sabedoria do
Universo situou o laboratório das formas físicas e a usina dos estímulos
espirituais mais intensos para a execução das tarefas que esposamos, em regime
de colaboração mútua, visando ao rendimento do progresso e do aperfeiçoamento
entre os homens.
Cada homem e cada mulher que ainda não se angelizou ou que não se encontre em
processo de bloqueio das possibilidades criativas, no corpo ou na alma, traz,
evidentemente, maior ou menor percentagem de anseios sexuais, a se expressarem
por sede de apoio afetivo, e é claramente, nas lavras da experiência, errando e
acertando e tornando a errar para acertar com mais segurança, que cada um de nós
- os filhos de Deus em evolução na Terra - conseguirá sublimar os sentimentos
que nos são próprios, de modo a erguer-nos em definitivo para a conquista da
felicidade celeste e do Amor Universal.
Emmanuel