Diálogo, um dos Quatro Pilares do Saudável Relacionamento
Ouve-se que é preciso discutir à exaustão determinado tema
conflitante, para chegar-se a um consenso. Há nesta corriqueira afirmação um
equívoco: numa discussão dificilmente chega-se a um consenso, pois o termo
“discussão” pressupõe a existência de perdedor e ganhador. Portanto, como regra,
não há como chegar a um consenso numa discussão. Na discussão a pessoa chega com
determinado pressuposto e procura vencer, com suas idéias, as opiniões dos
outros participantes. Um exemplo clássico de discussão são os debates em
campanha eleitoral, onde cada candidato procura impor suas teses e derrotar as
dos adversários.
Se for preciso chegar a um consenso, o mais adequado instrumento da comunicação
é o diálogo.
A diferença básica entre a discussão e o diálogo é que, enquanto no primeiro
caso a pessoa já chega com suas idéias prontas procurando impô-las, no segundo,
a pessoa despe-se de suas verdades ou pressupostos. No diálogo o grupo está
aberto e predisposto a explorar diversos pontos de vista para se chegar a um bom
resultado. Não há, no diálogo, pessoas perdedoras e ganhadoras, mas, sim, idéias
vencedoras.
Outra diferença básica entre a discussão e o diálogo é que, enquanto no primeiro
caso (discussão) os integrantes utilizam-se de reflexões com o objetivo de
encontrar argumentos que destruam ou enfraqueçam as idéias do outro, no segundo
caso (diálogo) as pessoas fazem reflexões sobre a validade de suas próprias
idéias.
No livro A Quinta Disciplina, Editora Campus, seu autor Peter Senge relata
algumas frases determinantes do David Bohm sobre diálogo. David Bohm, destacado
estudioso da física quântica, em uma das suas frases traduz a essência do
diálogo: “No diálogo não estamos tentando vencer. Todos estaremos vencendo se
estivermos fazendo de maneira correta”.
Diz ainda David Bohm: “O propósito do diálogo é revelar as incoerências do nosso
pensamento”. Em consonância com esta frase Peter Senge desenvolve a seguinte
teoria: “Quando um conflito vem á tona em um diálogo, as pessoas provavelmente
percebem que há uma tensão, mas a tensão surge, literalmente, dos nossos
pensamentos. As pessoas dizem ‘São os nossos pensamentos e a forma pela qual nos
atemos a eles que entram em conflito, não nós’. Assim que as pessoas vêem a
natureza participativa de seu pensamento, elas começam a se separar de seu
pensamento. Começam a assumir uma posição mais criativa e menos reativa a seu
pensamento”.
Por estas considerações de Peter Senge e de David Bohm, deduz-se que nas vezes
em que quisermos atingir a efetividade em nosso meio, o diálogo é a ferramenta
mais adequada, e não a discussão.
Sobre o diálogo no mundo corporativo ou institucional, continua Peter Senge no
já citado livro A Quinta Disciplina:
“Bohm identifica três condições básicas necessárias ao diálogo:
1. Todos os participantes devem ‘suspender’ seus pressupostos, literalmente
colocando-os ‘como se estivessem suspensos diante de nós’;
2. Todos os participantes devem encarar uns aos outros como colegas;
3. Deve haver um ‘facilitador’ que ‘mantenha o contexto’ do diálogo.
Essas condições contribuem para permitir o ‘livre fluxo de significado’ passando
entre os membros do grupo, diminuindo a resistência ao fluxo”.
“Suspender os pressupostos”, de David Bohm, comenta Peter Senge: “Significa
segurá-los ‘como se estivessem pendurados à sua frente, constantemente
acessíveis ao questionamento e à observação’. Isso não significa que temos de
jogar fora nossos pressupostos, suprimi-los ou evitar sua expressão. Tampouco,
de maneira alguma, significa que ter opiniões é ‘ruim’ ou que devamos eliminar o
subjetivismo. Ao contrário, significa estarmos conscientes dos nossos
pressupostos e submetê-los a exame. Isso não pode ser feito se estivermos
defendendo nossas opiniões. Tão pouco pode ser feito se não tivermos consciência
dos nossos pressupostos, ou de que nossas visões baseiam em pressuposto, ao
invés de fatos incontroversos. Bohm argumenta que uma vez que o indivíduo ‘se
fecha numa posição’ e decide que ‘é assim que tem de ser’, o fluxo do diálogo
fica bloqueado”.
SABERMOS OUVIR,
A PRINCIPAL TÉCNICA DO DIÁLOGO
Uma das mais importantes leis da comunicação interpessoal, a Lei de Russel, diz
que “A resistência a uma idéia nova aumenta na proporção do quadrado de sua
importância”. A conscientização desta realidade evita muitos dissabores, pois em
vez de criticarmos os outros por serem resistentes às nossas idéias,
compreenderemos que esta é uma característica própria da natureza humana.
Portanto, cabe-nos aplicar técnicas adequadas para vencermos as resistências dos
outros às nossas idéias, que é um dos objetivos deste texto. Mas que não nos
esqueçamos que nós também somos resistentes às idéias do outros. Aprendermos a
ouvir o próximo é a adequada técnica para os dois lados, isto é, será útil para
vencer tanto a resistência do outro, quanto a nossa às idéias novas.
Carl Rogers, psicólogo humanista, reforça nossa resistência às idéias novas:
“Mesmo entre aqueles que aceitaram as regras fundamentais da ciência, a crença
provisória nos resultados da investigação científica. apenas se dá quando existe
uma preparação subjetiva para ela. Ressalta de tudo isto que a possibilidade de
eu acreditar nas descobertas científicas dos outros ou nos meus próprios
estudos, depende em parte da minha receptividade em relação a estas
descobertas”. Deduz-se desta afirmação de Carl Rogers a importância da lição que
Benjamin Franklin nos passa: “Se quiseres convencer, fale de interesses, em vez
de apelares à razão”.
Pelos estudos apresentados neste artigo, é possível concluir que o diálogo tem
como principal regra o fato de sabermos, ou aprendermos, a ouvir o outro. Sobre
este assunto, faço a seguinte comentário:
Deming, o papa da Qualidade Total, disse que o melhor antídoto à criatividade,
isto é, o que mais prejudica o aflorar da criatividade é o fato do funcionário
sentir-se que faz parte de uma equipe assustada, sentir-se parte de uma equipe
que tem medo de dar idéias ao líder, pois sabe que naturalmente serão
rechaçadas. O bom líder deve saber trabalhar a natural resistência que temos às
idéias e fatos novos. Antes de dizer “não vai dar certo” ou “já fizemos isto
antes e não funcionou”, ouça. Ouça, ouça e ouça.
Incentive a pessoa a falar. Pergunte detalhes. Valorize a idéia do próximo.
McKnight, o lendário ex-presidente da 3M, deixou-nos algumas lições: “Ouça
qualquer pessoa que tenha uma idéia original, não importa quão absurda possa
parecer à primeira vista. Motive, não fique preocupado com detalhes. Deixe que
as pessoas desenvolvam uma idéia.”
Técnicas para bem ouvir.
Algumas boas dicas, passadas pela educadora Joanna de Angelis, para aprendermos
a ser bons ouvintes:
a) Não interrompa o interlocutor passando informações várias, talvez
desinteressantes para ele;
b) Não aparente saber tudo, estar por dentro de todos os acontecimentos;
c) Não lhe tome a palavra, fazendo a conclusão, em vez de deixá-lo concluir à
sua maneira;
d) Seja gentil, fazendo com que sua cordialidade o deixe à vontade;
e) Deixe que sua cordialidade o ponha à vontade para descarregar tensão,
sofrimento;
f) No momento próprio, fale com naturalidade, sem a falsa postura de intocável
ou sem-problema;
g) Procure da idéia ouvida ressaltar algo de positivo, de interessante;
agradeça-lhe a idéia. Se tiver que fazer críticas, utilize-se da docilidade e do
bom senso.
A importância de perguntas adequadas para bem ouvir.
Para bem ouvir, nós temos que também saber bem perguntar. Veja logo a seguir
duas formas de perguntar a um líder religioso se é permitido fumar e rezar ao
mesmo tempo:
a) Posso fumar quando estou rezando?
b) Posso rezar quando estou fumando?
No exemplo, a probabilidade da resposta ser positiva está muito mais evidente na
segunda pergunta. Não basta perguntar, é preciso saber “como” perguntar.
As perguntas que geram mais reflexão e iniciativa, são “O quê?” e “Como?”.
Outras perguntas também importantes são: “Quem?”; “Onde?”; “Quando?”; “O que
mais?”; “O que você quer?”; “O que isso vai te trazer?”; “Como você poderia
fazer isso?”. Acrescente também a colocação: “Me diga mais...”. Para não parecer
um interrogatório, as perguntas precisam ser entremeadas com simpática e
produtiva conversa.
Aprendendo a ouvir em três níveis.
Precisamos aprender a ouvir em três níveis: Interno; Focado e Global. Interno,
quando faz suas reflexões interiorizando o que concluiu da fala do outro, para
só depois comentar; Focado, no sentido de associar o que ouviu ao propósito da
reunião ou do diálogo; Global, no sentido de sempre ter uma visão generalista
para que a flexibilidade se faça presente.
Aprendendo a ser bom ouvinte, passaremos a ter uma visão mais abrangente da
realidade que está à nossa volta. O líder que muito fala e pouco ouve, mais
expõe o seu universo e sua verdade do que aprende com o universo e a verdade das
pessoas que estão à sua volta.
Alkindar de Oliveira