Máscara e Não uma Meta
Apropriemo-nos definitivamente de nossa condição humana. Isso
significa dizer que cometemos equívocos, temos fragilidade e, em última análise,
estamos todos - todos mesmo - num processo contínuo de aprendizado. Ora, se
estamos aprendendo estamos sujeitos a erros, tropeções, quedas, novos equívocos
e igualmente com oportunidades de reparação dos citados equívocos, que, na
verdade, nada mais são que novos aprendizados.
Quando cometemos um erro (preferível que substituamos a palavra "erro" por
equívoco), estamos diante de três novos caminhos, que se apresentam numa
seqüência inevitável: arrependimento, expiação (conseqüência do equívoco) e
reparação.
Adentramos este assunto porque a consciência de culpa tem sido implacável juiz,
a corroer esperanças de muita gente. E temos que pensar bem nesta questão, pois
errar (ou equivocar-se) é algo absolutamente normal e natural, justamente pela
condição humana em que nos situamos. Errar é normal, permanecer ou teimar no
erro, aí sim é outra questão.
Uma vez consciente de um equívoco, procuremos reparar, mas deixemos de sofrer
tanto por algum desacerto do caminho. De páginas de um livro que cito a seguir,
extraio o seguinte texto: " (...) O perfeccionismo é apenas uma maneira
socialmente mais aceitável de lidar com a baixa valorização. Parecer perfeito
nunca foi sinal de saúde mental. Bem ao contrário. Ter a coragem de ser
imperfeito indica muito mais uma auto-estima saudável do que fingir ser
impecável. (...) Ter maturidade significa reconhecer que vamos continuar
errando, mas seremos capazes de rever nossas ações e corrigi-las. Fingir ser
impecável é na verdade um sinal de imaturidade.(...)" (do livro Jesus, o maior
psicólogo que já existiu, de Mark W. Baker, Edit. Sextante).
Ora, é exatamente este aspecto da tentativa de "fingir" maturidade ou de parecer
impecável que torna as criaturas infelizes. O uso de máscaras, tentando
parecermos o que não somos ou não conseguimos ser, é na verdade, causa de muitas
aflições.
Tenhamos a coragem de sermos nós mesmos. Não devemos explicações ou
justificativas a ninguém, exceto a Deus e à própria consciência.
Conscientes que estamos sujeitos a erros, ou equívocos - repetimos -,
entenderemos, com mais facilidade, que as demais pessoas encontram-se na mesma
situação, igualmente em aprendizado. Agindo assim, deixaremos os julgamentos
precipitados e levianos. Também deixaremos de nos cobrar (ou de cobrar os
outros) por comportamentos que ainda não assimilamos.
Por outro lado, ao reconhecer os comportamentos indesejáveis e as tendências
inferiores que ainda carregamos, aceitemo-nos como somos, mas lutemos - com
todas as forças - para nos despojarmos desses infelizes comportamentos ou
tendências, ao invés de nos acomodarmos a eles. É uma luta permanente, quase sem
fim, mas viável e possível.
Não somos impecáveis, nem tão maduros como nos julgamos. Igualmente não somos
perfeitos. Porém, algo somos muito capazes: reparar os próprios caminhos.
Em virtude dessa capacidade de reação e renovação do próprio comportamento,
afastemos de vez de nossos dias, a baixa auto-estima, a tristeza, a depressão, o
isolamento. Ergamos a cabeça na luta por fazer-nos melhores a cada dia. Mais
entusiastas, mais animados, mais cheios de boa vontade, mais dispostos ao bem.
E, paremos de julgar comportamentos alheios, pois, não conhecemos a história
completa de cada vida, motivações, medos, complexos, limitações e aspirações que
movem cada pessoa.
Cuidemos de tirar as próprias máscaras, isso sim, e fixemos metas de progresso
para nossos próprios passos, usando a determinação e a coragem de sermos nós
mesmos!
Orson Carrara