Abnegação dos Heróis
A conservação entre os amigos desencarnados que nos integram a
equipe de viagem prosseguia, animada, ontem à noite, quando Luís Garcia, um
amigo espiritual procedente da Espanha, falou, excitado:
- O que estraga o movimento espírita, no mundo inteiro, são os traidores da
doutrina, os mercadores da mediunidade, os leitores de fenômenos, os caixeiros
das trevas, fantasiados de espíritos de luz...
Mas Pierre Bazin, um confrade francês, aproveitou as reticências e opinou:
- Caro Garcia, você está certo, certíssimo. Os que abusaram da faculdade e
recursos sagrados, a detrimento do Espiritismo, nos fizeram e nos fazem ainda
imenso mal; no entanto, você e nós não podemos esquecer os milhares de médiuns e
companheiros outros de nossa Causa que triunfaram, brilhantemente, nos seus
deveres, perante a Espiritualidade Maior – no último século – o primeiro de
nossas atividades. A sociedade humana não lhes enxergou o trabalho, o
devotamento, a humildade, o sacrifício... Passaram, aos milhares, na arena
física, criando condições favoráveis ao progresso, impedindo desastres morais,
educando coletividades e erguendo corações para o futuro... Diante desses heróis
anônimos, os vendilhões do tempo são pequena minoria...
Bazin fitou-nos de significativa maneira, indagando em seguida:
- Sabem porquê?
E finalizou:
- Isso acontece, meus amigos, porque, de modo geral, o mundo é míope para ver a
abnegação, ms tudo o que se relaciona com a traição atinge logo intensa
publicidade, porque o mundo entende disso muito bem.
Hilário Silva