Primeiro Diálogo - O Crítico
Visitante – É precisamente para evitar esse escolho que vim
vos pedir permissão para assistir a algumas experiências.
Allan Kardec – E pensais que isso vos bastaria para falar do Espiritismo
ex-professo? Mas como poderíeis compreender essas experiências, e com mais forte
razão julgá-las, se não haveis estudado os princípios que lhes servem de base?
Como poderíeis apreciar o resultado, satisfatório ou não, de experiências
metalúrgicas, por exemplo, se não conheceis a fundo a metalurgia? Permiti-me
dizer-vos, senhor, que vosso projeto é absolutamente como se, não sabendo nem
matemática, nem astronomia, fosseis dizer a um desses senhores do Observatório:
Senhor, eu quero escrever um livro sobre astronomia, e além disso provar que
vosso sistema é falso; mas como disso eu não sei nem a primeira palavra,
deixai-me olhar uma ou duas vezes através de vossas lunetas. Isso me bastará
para conhecê-la tanto quanto vós.
Não é senão por extensão que a palavra criticar é sinônimo de censurar. Em seu
significado próprio, e segundo sua etmologia, ela significa julgar, apreciar. A
crítica pode, pois, ser aproveitada ou desaproveitada. Fazer crítica de um livro
não é necessariamente condená-lo. Aquele que empreende essa tarefa deve fazê-la
sem idéias preconcebidas. Mas, se antes de abrir o livro já o condenou em seu
pensamento, seu exame não pode ser imparcial.
Tal é o caso da maioria daqueles que têm falado do Espiritismo. Apenas sobre o
nome formaram uma opinião e fizeram como um juiz que pronunciou uma sentença sem
se dar ao trabalho de examinar o processo. Disso resultou que seu julgamento
ficou sem razão e, ao invés de persuadir, provocou riso. Quanto àqueles que
estudaram seriamente a questão, a maioria mudou de opinião e mais de um
adversário dela tornou-se partidário, quando viu que se tratava de coisa diversa
daquela em que ele acreditava.
O Espiritismo é ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina
filosófica. Como ciência prática, ele consiste nas relações que se podem
estabelecer com os Espíritos; como filosofia, ele compreende todas as
conseqüências morais que decorrem dessas relações.
Pode-se defini-lo assim:
O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, da origem e da destinação dos
Espíritos, e das suas relações com o mundo corporal.
Allan Kardec