Tentativa e Aprendizado
Depois de variadas experiências, vim a Pedro Leopoldo pela
primeira vez, após a libertação.
Como se me afigurou diferente o grupo que eu visitara, em agosto de 1937, em
companhia do meu prezado Watson! (1)
A casa humilde estava repleta de gente desencarnada.
Os companheiros, ao redor da mesa, eram poucos. Não excedia de vinte o número de
pessoas no recinto. As paredes como que se desmaterializavam, dando lugar a
vasto ajuntamento de almas necessitadas, que o orientador da casa, com a
colaboração de muitos trabalhadores, procurava socorrer coma palavra evangélica.
Entrei, ladeando três irmãos, recebendo abraços acolhedores.
Notando os cuidados do dirigente, prevendo as particularidades da reunião,
recordei os Espíritos controladores a que se referem comumente nossos
companheiros da Inglaterra.
Estávamos perante equilibrado diretor espiritual.
Todas as experiências e realizações da noite permaneciam programadas.
Incontáveis fios de substância escura partiam, como riscos móveis, das entidades
perturbadas e sofredoras, tentando atingir os componentes da pequena assembléia
de encarnados, mas, sob a supervisão do mentor do grupo, fez-se belo traço de
luz, em torno do quadrado a que vocês se acolhiam, traço esse que atraía as
emanações de plúmbea cor, extinguindo-as.
Explicou-me um amigo que as pessoas angustiadas, sem o corpo físico, projetam
escuros apelos, filhos da tristeza e da revolta, nas casas de fraternidade
cristã em que se improvisam tarefas de auxílio.
Enquanto vocês oravam e atendiam a solicitações entre os dois mundos, observei
que trabalhadores espirituais extraíam de alguns elementos da reunião; grande
cópia de energias fluídicas, aproveitando-as na materialização de benefícios
para os desencarnados em condições dolorosas. Não pude analisar toda a extensão
do serviço que aí se processava, mas esclareceu-me dedicado companheiro que em
todas as sessões de fé religiosa, consagradas ao bem do próximo, os cooperadores
dispostos a auxiliar com alegria são aproveitados pelos mensageiros dos planos
superiores, que retiram deles os recursos magnéticos que Reichenbach batizou por
“forças ódicas”, convertendo-os em utilidades preciosas para as entidades
dementes e suplicantes. Minha mente, contudo, interessava-se na aproximação com
o médium, fixa na idéia de valer-se dele para contacto menos ligeiro com o mundo
que eu havia deixado.
Rompi as conveniências e pedi a colaboração do supervisor da casa, embora o
respeito que a presença dele me inspirava. Não me recebeu o pedido com
desagrado. Tocou-me os ombros, paternalmente, e acentuou, esquivando-se:
-Meu bom amigo, é justo esperar um pouco mais. Não temos aqui um serviço de mero
registro. Convém ambientar a organização mediúnica. A sintonia espiritual exige
trato mais demorado.
Lembrei-me, então, imperfeito e egoísta que ainda sou, de Ande Luiz. Ele não
fora espiritista; no entanto, começara, de pronto, o noticiário do “outro
mundo”. O diretor, liberal e compreensivo, mergulhou em mim os olhos
penetrantes, como se estivesse a ler as páginas mais íntimas de meu coração e,
sem que eu enunciasse o que pensava, acrescentou, humilde:
-Não julgue que André Luiz haja alcançado a iniciação, de improviso. Sofreu
muito nas esferas purificadoras e freqüentou-nos a tarefa durante setecentos
dias consecutivos, afinando-se com a instrumentalidade. Além disto, o esforço
dele é impessoal e reflete a cooperação indireta de muitos benfeitores nossos
que respiram em esferas mais elevadas.
E passou a explicar-me as dificuldades, indicando os óbices que se antepunham à
ligação e relacionando esclarecimento científicos que não pude guardar de
memória. Em seguida, prometeu que me auxiliaria no instante oportuno.
Realmente, estava desapontado, mas satisfeito.
Avizinhara-me dos amigos, incapaz de fazer-me percebido; entretanto, começava a
entender, não somente os empecilhos naturais no intercâmbio do desprendimento e
da renúncia, na obra cristã que o Espiritismo, com Jesus está realizando em
favor do mundo.
(1) – (Em agosto de 1937, o Autor esteve pessoalmente em Pedro Leopoldo,
acompanhado de um amigo).
Irmão Jacob