Magna Dor

Interroguei ansioso a Dor um dia:
- “Quem te enviou cruel à nossa estrada?
Por que buscas a vida acorrentada
Aos tormentos da sombra e da agonia?!

Certo, emerges da noite espessa e fria,
Em que nunca aparece a madrugada...
Vens do abismo de boca escancarada
Onde a angústia das trevas não tem dia...”

Mas a Dor respondeu: - “Cala-te e lida!
Eu sou a inesperada luz da vida,
Não procures o bem no campo inverso!

Ouve! sem meu luzente archote errante
O homem – cansado e mísero viajante –
Viveria sem rumo no Universo.”


Anthero de Quental