Prevenção ao Suicídio
“As penas são sempre proporcionadas à consciência que se tenha
das faltas cometidas” (O Livro dos Espíritos, questão 952-A).
Iniciamos nossa abordagem com a informação contida na obra básica da doutrina
espírita para esclarecer que a morte por suicídio, sempre um crime perante a lei
divina, não acarreta ao espírito sofrimento de igual teor e modo, porque Deus é
justo e bom, levando em consideração o nível de consciência do indivíduo na
prática do ato. O fato de termos pontos comuns nas narrativas de espíritos
suicidas apenas demonstra que no processo pós-morte existe uma regra geral que o
comanda, mas que as particularidades variam ao infinito. É importante
compreendermos isso para corrigir posturas sintetizadas em expressões como
“coitado; vai sofrer muito; a morte por suicídio só acarreta sofrimentos
inenarráveis”. É um engano essa generalização. Nem todos os suicidas vão passar
pelo que passaram os espíritos identificados na obra “Memórias de um Suicida”,
psicografado pela médium Yvonne Pereira.
Sem dúvida o suicídio, como um ato contrário à lei divina, acarreta sofrimentos,
tanto perispirituais como, principalmente, morais, mas, cada espírito, por ser
uma individualidade mergulhada no cosmo divino, com a sua carga pessoal
evolutiva, sofrerá de acordo com a intenção, com o grau de sua consciência,
tendo seus sofrimentos muitas vezes atenuados por méritos anteriormente
conquistados e por intercessão daqueles que lhe concedem amor.
Não há como escapar dos efeitos desse ato contra a vida, mas eles serão
proporcionais, pois a lei de Deus não é a de talião. Se a legislação humana já
leva em conta, embora imperfeitamente, as circunstâncias, premeditação ou não,
etc., do crime praticado para aplicação da pena, quanto mais Deus, que é a
perfeição absoluta.
Causas do Suicídio
Segundo os Espíritos Superiores nas questões 943 a 957 de “O Livro dos
Espíritos”, as principais causas do suicídio são:
1. Desgosto pela vida
Efeito da ociosidade, da falta de fé e da saciedade. São três aspectos que
merecem análise, pois se a ociosidade, não ter o que fazer, leva ao suicídio, a
falta de fé, em nada acreditando além do dia-a-dia, também remete o homem para
essa fuga da vida. Do outro lado temos a saciedade, ter tudo e não se preocupar
com o ganha-pão, que pode entediar o indivíduo e remetê-lo ao suicídio.
2. Erro no exercício das faculdades
As faculdades intelectuais e morais devem ser exercitadas com um fim útil e
segundo as aptidões naturais de cada ser. Aqui temos uma advertência aos pais e
responsáveis, que muitas vezes forçam os filhos a seguir esta ou aquela
profissão, violentando suas tendências. E também uma advertência para o bom uso
das nossas faculdades, pois o uso irresponsável acarreta efeitos nocivos que
podem levar o homem a tentar fugir aos problemas acarretados por ele mesmo.
3. Falsa visão sobre a vida
Devemos viver com um fim superior, somente assim suportaremos as vicissitudes da
vida com paciência e resignação. O homem deve agir tendo em vista a felicidade.
E ele só conseguirá isso se o processo da sua educação, responsabilidade dos
pais e professores, der a ele condições de sentir-se espírito imortal, de
compreender que a vida é muito mais do que nascer, viver e morrer.
4. Orgulho
Vergonha de trabalhar com as próprias mãos e assim descer na escala social.
Muitos de nós ainda temos vergonha de executar tarefas ditas menores, ou, por
circunstâncias da vida, perdendo a boa posição social, nos recusamos a iniciar
esforços no trabalho humilde. É o orgulho perpetrando milhares de suicídios.
Somente a compreensão e vivência da solidariedade, da cooperação e do trabalho
desde pequeno podem evitar esse quadro.
Atitudes Preventivas
A doutrina espírita não fica apenas nas explicações sobre causas e
conseqüências, mostra igualmente as ações que podemos ter para auxiliar as
pessoas com tendência ao suicídio. São ações preventivas muito importantes e que
podemos resumir nos seguintes itens:
1. Colocar-se mais próximo da pessoa, como verdadeiro amigo.
2. Fazê-la sentir-se amada.
3. Levantar sua auto-estima através do elogio sincero às suas capacidades.
4. Dar a ela objetivos na vida.
5. Conscientizar a pessoa a respeito das conseqüências do ato, no além-túmulo, e
das dores que afligem os familiares.
6. Dialogar com bondade e paciência.
7. Sugerir-lhe dar-se um pouco mais de tempo para resolver seus problemas.
8. Evitar oferecer bases ilusórias para esperanças que o tempo desmancha.
9. Estimular a valorização pessoal.
10. Acender uma luz no túnel do seu desespero.
11. Exercer a oração.
12. Indicar leituras otimistas e espirituais.
13. Incentivar a freqüência ao centro espírita com a terapêutica do passe e da
água fluidificada.
14. Mostrar que devemos aceitar as pessoas como elas são, sabendo conviver com
as diferenças.
15. Fazer com que a pessoa compreenda que devemos aceitar a vida como ela se nos
apresenta, fazendo tudo por melhorá-la incessantemente.
Conclusão
Temos na doutrina espírita as explicações sobre o suicídio e que podem debelá-lo
da face da Terra, e nisso devemos colocar todas as forças, pois o Espiritismo
revive o Evangelho à luz da vida imortal, dando ao homem novas diretrizes de
vida.
E com a palavra de Allan Kardec, no comentário à questão 957 de “O Livro dos
Espíritos”, encerramos nossas argumentações: “A religião, a moral, todas as
filosofias condenam o suicídio como contrário à lei natural. Todas nos dizem, em
princípio, que não se tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Mas por
que não se terá esse direito? Por que não se é livre de por um termo aos
próprios sofrimentos? Estava reservado ao Espiritismo demonstrar, pelo exemplo
dos que sucumbiram, que o suicídio não é apenas uma falta como infração a uma
moral, consideração que pouco importa para certos indivíduos, mas um ato
estúpido, pois que nada ganha quem o pratica e até pelo contrário. Não é pela
teoria que ele nos ensina isso, mas pelos próprios fatos que coloca sob os
nossos olhos”.
Bibliografia
O Livro dos Espíritos – Allan Kardec – FEESP.
O Céu e o Inferno – Allan Kardec – LAKE.
O Martírio dos Suicidas – Almerindo Martins de Castro – FEB.
Memórias de Um Suicida – Camilo/Yvonne Pereira – FEB.
Temas da Vida e da Morte – Manoel P. de Miranda/Divaldo Franco – FEB.
Suicídio e suas Conseqüências – Gerson Simões Monteiro – Mauad.
O autor é diretor do IBEM – Instituto Brasileiro de Educação Moral, escritor com
vários livros publicados e consultor empresarial.
Marcus Alberto de Mario