A Estamenha de Chagas

Jesus Gonçalves utiliza em seus versos expressões como essas: túnica de chagas e estamenha de chagas para figurar a condição em que viveu no final da sua última existência terrena.

A túnica de estamenha, grosseiro tecido de lã, era vestimenta comum na Judéia do tempo de Jesus.

Evidente o simbolismo poético dessas expressões. Os judeus pobres vestiam-se de estamenha, enquanto os ricos usavam túnicas refulgentes dos mais finos tecidos. Mas na vida espiritual essa situação se invertia, como vemos na parábola evangélica de Lázaro e o rico.

No soneto de Jesus Gonçalves vemos o mesmo processo. A estamenha de chagas é tecida no passado da própria criatura pela sua crueldade e a sua arrogância.

No tear do destino os fios da loucura humana são tecidos pelas nossas ações. E aquilo que tecemos é precisamente o que iremos vestir em próxima existência.

Ninguém, portanto, está sujeito na Terra a uma “afrontosa sentença”, mas apenas submetido às conseqüências de seu próprio comportamento em vida anterior. A cada um segundo as suas obras, porque somente assim aprenderemos a vencer o mal, a superar nossas tendências inferiores, nosso egoísmo criminoso.

Os “recursos da lei” não representam condenação implacável, mas corrigenda necessária. Por isso escrevia Léon Denis: “A dor é uma lei de equilíbrio e educação”.

Mas nem por isso devemos pensar que os sofredores não devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a ajudar os que sofrem. É o que ensina o item 27 do capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo.

É verdade que “a dor extingue o mal e o pranto lava as trevas”, mas a indiferença ante a dor e o pranto do próximo é também um mal que pode e deve ser extinto pela caridade.

Socorrendo os que sofrem estaremos tecendo, no tear do nosso destino, os fios da sensatez e da bondade que nos preparam uma túnica de luz para o futuro.


Irmão Saulo (pseudômino usado por J. Herculano Pires)


Irmão Saulo