Chico Xavier por Pe Marcelo

Num mesmo dia, o povo brasileiro, como se fosse uma só pessoa, em uma grande identidade coletiva, vibrava com a conquista da Copa do Mundo, e sentia-se mais pobre ao ver partir desta terra o médium Francisco Xavier, homem de Deus e testemunha do amor. 
Como monge e padre católico quero reverenciar a memória deste profeta que ultrapassa as fronteiras de uma religião determinada e pertence ao patrimônio espiritual de toda a humanidade. 
O alcance da profecia do Mahatma Gandhi vai além da Índia e da religião a qual pertenceu. Do mesmo modo, nosso querido Dom Hélder Câmara foi reconhecido como cidadão do mundo e profeta da paz, não só para os católicos. Assim também, Chico Xavier é sinal da bondade divina para todas as pessoas de boa vontade. 
Há dois anos, na promoção da Rede Globo Minas, o médium Chico Xavier foi votado pelo povo como a personalidade mais marcante de Minas Gerais no Século XX. Concorreu com figuras ilustres como Santos Dumont e Juscelino Kubitschek e ganhou. 
O governo estadual lhe deu a Comenda da Paz, distinção oferecida a personalidades que se destacam no esforço de aproximar e unir os seres humanos. 
Ele gostava de dizer: Quem sou eu, senão uma formiga, das menores que andam pela terra, cumprindo sua obrigação? 
Dom Hélder se comparava com o burrinho que carregou Jesus para entrar em Jerusalém. É a humildade de profeta que sabe ser mero receptáculo e transmissor de um dom que não lhe pertence. Foi esta confiança que permitiu tanto a Dom Hélder como a Chico Xavier cumprirem até o fim sua grandiosa missão, no meio de incompreensões e injustiças, até da parte de irmãos que com eles viviam a mesma fé. 
Tanto um como outro, até o final de suas vidas, dedicaram-se totalmente ao amor do próximo e à paz do mundo. 
Dom Hélder, aos 90 anos, dizia: Enquanto tiver forças, voarei como a pomba da paz. 
Com 92 anos, Chico Xavier pedia para ser levado por irmãos às sessões do Centro Espírita e abençoar as pessoas que vinham vê-lo para pedir suas orações. Sempre que podia visitava entidades filantrópicas que sustentava com direitos autorais que recebia pelos mais de 400 livros que escreveu a partir de mensagens de espíritos iluminados. 
Chico Xavier faleceu uma semana antes de completar, neste 08 de julho, 75 anos de mediunidade com Jesus, como escrevia seu amigo Carlos Baccelli. 
Esta intimidade com Deus que o fazia, em sua fé espírita, mensageiro do céu para os humanos, é vocação de todos nós, cada um do seu modo. No Evangelho, Jesus nos ensina: Pelo fruto, conhecereis a árvore. 
Os frutos deixados por Chico não são apenas uma doutrina filosófica e uma estrutura religiosa. Ele deixa a toda a humanidade o exemplo e a pregação da tolerância mútua, da solidariedade aos outros e da humildade como pilares da Paz. Ele dizia: A doutrina é a paz. (...) Estou consciente de que tenho procurado fazer o melhor e sou grato aos que não me permitiram viver uma vida inútil. Um dia vamos compreender a necessidade de uma união mais profunda. (...) Graças a Deus, nunca briguei com ninguém... Vocês me perdoem mas Emanuel está me dizendo que já falei demais. (...) De madrugada a gente continua...
Que todas as pessoas de bem escutem este apelo e façam deste tempo a madrugada de um tempo novo no qual - por nosso amor e busca da unidade entre todas as crenças e respeito entre todas as culturas - poderemos ajudar a nascer um novo dia de justiça e vida para todos.


Marcelo Barros