O Que é Sexo?
Muito se tem escrito e discutido, nos últimos tempos, no
movimento espírita a questão homossexual. Mas, a discussão me parece fora do seu
problema real. Numa boa aplicação do pensamento lógico, antes de se abordar a
parte, deve-se conseguir uma clara visão do todo.
Está a se debater o homossexualismo, sem haver sido deslindada a problemática
sexual. Cabe "incorporarmos" o método socrático, e sairmos pela imensa "Agora"
que e a Web, inquirindo, principalmente dos espíritas que pretendem saber do
assunto: "O que e o sexo?"
Foi dessa forma que Sócrates desmascarou a pretensa "sabedoria" de muitos dos
seus contemporâneos.
Estudando a Codificação e as obras espíritas, psicografadas ou não, a que
tivemos acesso, e pensamos adequadas, não conseguimos, ate o momento, fazer uma
idéia clara do que, em ultima analise, seja "sexo".
No Livro dos Espíritos, a única abordagem direta sobre o assunto, e a seguinte:
"Les Esprits ont-ils des sexes? 'Non point comme vous l'entendez, car les sexes
dependent de l'organisation. Il y a entre eux amour et sympathie, mais fondes
sur la similitude des sentiments'" ("Os Espíritos tem sexos? 'Não como vos o
entendeis, porque os sexos dependem da organização. Existe entre eles amor e
simpatia, porem fundados sobre a similitude dos sentimentos'") (questão 200 -
nos ativemos o mais perto possível, na tradução, do original).
Em francês, o termo "organisation" ao tempo de Kardec, tinha os mesmo
significados que em português e, também, de "organismo", sendo que, hoje em dia,
neste sentido, e empregado, como em nossa língua, com um complemento
aclamatório: "organização física, corporal, orgânica" etc.).
Segundo a resposta, os Espíritos estão destituídos de sexo, no sentido
biológico, isto e, não possuem aparelho reprodutor, logo, também não tem
hormônios sexuais em sua estrutura. E, é claro que não poderiam tê-los, pois não
se reproduzem. Ainda, segundo a resposta, eles se vinculam por "sentimento", por
afinidade eletiva.
Fica, contudo, uma pergunta, sendo que o corpo e estruturado e mantido pela
organização perispiritual, de onde vem o impulso que fixa, durante a
embriogenese, a definição sexual? Mas, busquemos respostas efetivas, e não "petitio
principii", ou floreios verbais muito bonitos, mas sem significação concreta,
tais como: "almas passivas e almas ativas", pois ainda cabe perguntar, o que são
almas passivas, e porque o são, assim como as ativas.
Como vemos, uma resposta desse tipo e adiar o problema, e não solucioná-lo.
Freud concebeu o sexo, em ultima analise, como uma forma de energia, a libido.
Os teosofistas e hinduístas também se referem a uma energia sexual, própria da
alma que, a semelhança da libido, pode ser "sublimada", ou seja, transferida
para outro tipo de atividade do individuo. André Luiz descreve o sexo como uma
manifestação de uma energia, o amor, pelo qual os seres se alimentam uns aos
outros.
Então, deveremos entender que os Espíritos, na Codificação, ao falar de "amor e
simpatia", estavam falando de uma energia sexual da alma? Uma espécie de
"libido"? Mas, permanece a questão, o que e o sexo? Como ele se diferencia,
quando a alma encarna?
Creio que este é o melhor caminho para podermos, a partir de princípios
solidamente estabelecidos, discutirmos, não só o homossexualismo, mas todas as
formas de manifestação da sexualidade.
Inclusive a mais grave: a pratica sexual de forma geral. Porque, senão,
estaremos a dividir o mundo entre os certos (os heterossexuais) e os errados (os
homossexuais).
E será que nós, os heterossexuais estamos corretos pelo simples fato de o
sermos? E não falamos apenas de perversões ou sexolatria, mas sim da
"normalidade" da pratica sexual.
O que é o "normal", neste lado? Existirá um "check list" de atos, atitudes,
palavras e pensamentos que podem, ou não, serem realizados durante o ato sexual?
O ato sexual entre parceiros sem compromisso matrimonial é certo ou não? Isto
sem referencia ao adultério, que eticamente e incorreto. Voltamos a frisar que
nos referimos a sexualidade hetero.
Ora, com tantas coisas a resolvermos, que dizem respeito a nossa vivencia
sexual, esperamos que os que vivem a "ditar catedra" quanto a homossexualidade,
já tenham resolvido estas "simples" questões em suas vidas.
De minha parte, posso dizer que ainda estou meditando sobre elas, e buscando
respostas, mesmo aos 57 anos de idade, uma viuvez e dois casamentos, isto sem
enfrentar a angustiante problemática da homossexualidade.
Djalma Argolo