Vidas Melancólicas

Há criaturas que vivem uma vida desinteressante, vazia, triste, e nesse estado procuram psiquiatras e psicanalistas, receosas de que estejam caminhando para a loucura.
Se a elas perguntássemos:— Por que você chegou a esse estado? Cada uma daria uma resposta diferente e algumas diriam:— Eu sempre fui assim. Nunca soube que é alegria. Não sei por quê.
Realmente não existe nenhum motivo que justifique a depressão, a não ser um distúrbio orgânico, o que é raro.
Nosso trabalho na existência, entre ilusões para desabrochar nossas potencialidades, quase sempre nos leva a longos desvios, dos quais voltamos com os pés feridos e a alma dilacerada. Mas precisamos compreender. As circunstâncias mais abstrusas e as adversidades mais contundentes têm, quase sempre, o poder de provocar a depressão; mas o importante é, passada a fase de choque, levantar e seguir, mesmo com a alma em pedaços.
"A melancolia" diz Adler, "é como um ódio e uma censura alimentados longamente contra os outros, embora com o fim de conseguir simpatia."
Lembranças amargas, fixadas, é que fazem o rosário de frustrações da criatura mal formada e mal-informada, tornando-a melancólica, desiludida e neurótica.
São pessoas egocêntricas, cuja autopiedade vai consumindo suas energias a ponto de levá-las a um completo abandono de si mesmas, a uma apatia, a um desânimo que só mesmo um terremoto interno, um grande sofrimento que sobrevenha, talvez as arranque de sua autocomplacência.
Esquecidas do próximo, pensando apenas em si mesmas, essas criaturas não lutam para afugentar o pessimismo e o despeito que lhes corrói a alma; sentem inveja de todos que a seus olhos são felizes e otimistas.
Nenhum remédio é mais eficaz para a melancolia que o interesse pelo amor, pelo próximo, que a atenção voltada para os que realmente precisam de alguém que lhes socorra nas suas necessidades.
Para que pratiquemos boas ações, não necessitamos ter bens materiais. É a nossa alma que precisa ser rica de amor para que distribuamos dádivas a mancheias.
É tão fácil praticar boas ações!
São muitos os que cruzam o nosso caminho e não percebemos. Se os olhássemos com olhar de compreensão, e na ocasião oportuna lhes dirigíssemos a palavra, poderíamos despertar-lhes algum interesse pelo valor da vida e da experiência individual, boa ou má.
Disse Zoroastro:"Fazer bem aos outros não é um dever, é uma alegria, pois nos melhora a saúde e aumenta a felicidade". E Benjamin Franklin conclui: "Quando você é bom para os outros, é melhor para você mesmo".
Interessarmo-nos pelos outros, dar objetivo a nossa vida, sermos solidários e agradáveis, afasta-nos as preocupações e nos dá ótima oportunidade de aumentarmos o número de amigos.
Jesus nos disse:"Ama teu próximo". A criatura que não se interessa mais pela vida, prova que só vê a si mesma, sua mente gira em redor de si, dos seus problemas, dos seus desejos insatisfeitos, das suas dúvidas, enfim, do seu mundo povoado de duendes; por isso se tornam maiores suas dificuldades, seus problemas parecem insolúveis e os danos serão desastrosos.
Procuremos alongar a visão mental até o infinito da sabedoria, para, aí, nos abeberarmos do néctar do amor divino e distribuí-lo fartamente com os peregrinos e sedentos que seguem estradas que o destino lhes aponta.
Quem assim procede jamais sofrerá melancolia, jamais necessitará de psiquiatras, nem de tratamento nenhum. Curar-se-á por si mesmo e poderá oferecer receita para todos os males da alma — Amor.


Cenyra Pinto