O Cuidado que Faltou
Quando a vida traz um desconforto, começamos a nos movimentar
para mudar a situação, isto é evidente. Ninguém gosta de ser incomodado.
Verdade, porém, que nem sempre conseguimos nos acomodar como gostaríamos, pois
sempre há algo a nos importunar,
Se conhecemos alguém ligado aos assuntos do sobrenatural, falamos de nossos
dramas. Chegam as receitas, os conselhos, que normalmente vem acompanhados de
diagnóstico: "Isto é obsessão!" Se procurarmos definição para a palavra,
encontraremos impertinência, perseguição, idéia fixa. Se verificarmos o verbo
obsedar, encontraremos os sinônimos importunar, incomodar, molestar sem
descanso. Aí surge o conselho: "Você precisa desenvolver a mediunidade" (o
correto é dizer EDUCAR) ou então: "Procure um Centro Espírita".
Ocorre que nem tudo tem a ver com os espíritos ou mediunidade. Muitas vezes,
trata-se de mero desequilíbrio emocional ou psicológico. Mas, afinal, vamos ao
Centro. Lá poderemos compreender os relacionamentos entre homens e espíritos, a
influência destes sobre os homens (sempre em função de nossa própria
colaboração, pela afinidade de gostos, comportamentos e conduta) e a sintonia
que se estabelece, considerando que os espíritos pertencem a diferentes classes
e NÃO SÃO IGUAIS nem em poder, nem em inteligência, nem em saber, nem em
moralidade, em função do nível evolutivo em que se encontram.
No Centro receberemos a orientação básica: receber passes, ouvir palestras de
cunho moral e instrutivo. Mas, pergunta-se, por que ocorre a obsessão? Ou, por
que os espíritos influenciam os homens? Como definição comum, saberemos que a
obsessão decorre de assédio espiritual inferior sobre um homem, sendo que o
inverso também pode ocorrer, ou mesmo entre espíritos, e ainda entre dois
homens.
As situações geradoras da obsessão podem decorrer de espírito inimigo de outras
vidas, por vingança. Ocorrem também por ligação mental com espiritualidade
inferior (neste caso a culpa é tão nossa quanto do outro) e pode ser também que
se trate de alguém cobrando por responsabilidades assumidas e ora não cumpridas,
deixadas no esquecimento. E, como ficamos? Que providência tomar?
Receber passes como tratamento, estudar a Doutrina Espírita, ouvir o evangelho,
habituar-se ao uso da prece. Estas são recomendações básicas, pois são recursos
de equilíbrio, como primeiro passo, para harmonizar e até estimular a algum
esforço pessoal.
Em etapa seguinte, mudança de conduta para cortar sintonia com os espíritos
ignorantes ou infelizes, através da esperança, da fé e principalmente da ajuda
ao semelhante. No começo, daremos bens materiais, doando alimentos, roupas,
etc.. Depois compreenderemos que isto não basta. É preciso também darmos nosso
tempo e carinho, visitando doentes, integrando-se em tarefas assistenciais e
caridosas. Ao mesmo tempo, DEIXAR de reclamar, de ser revoltado, de ser medroso
ou inseguro, deixar de julgarmos atos alheios apressadamente ou sermos honestos
apenas de fachada. A mudança de conduta é fundamental, pois a renovação afasta a
influência obsessiva.
Portanto, busquemos sim a Doutrina. Mas não só nas horas de aflição ou
necessidade. Ela não é o passe ou a reunião mediúnica, o prato de sopa ou o
agasalho. Mas, utilizemos o conhecimento espírita como suporte de atendimento e
libertação, usando cotidianamente como roteiro de segurança.
O cuidado que sempre falta é acharmos que Ela, a Doutrina veio para curar
corpos. Não! Ela cuida da saúde da alma, não visa atender ao imediatismo, mas
sim estar conosco para nos orientar. Para isso é preciso conhecê-la. Para tanto,
é preciso estudá-la, saindo da superfície e aprofundando seus conhecimentos.
Orson Carrara