A Morte Divide as Fases da Nossa Vida
"Necessário vos é nascer de novo" (Jesus a Nicodemos)
Entre inúmeros benefícios que decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina
Espírita, podemos indicar, sem dificuldade, aquele que orienta o homem acerca do
milenário problema da Morte.
Inegavelmente, sem qualquer partidarismo, somos levados a compreender que só o
Espiritismo estuda o velho problema, com riqueza de pormenores, uma vez que
sobre tal assunto muito pouco, ou que nada, disseram as demais religiões, que se
limitaram, simplesmente, a admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.
Sem as consoladores luzes da nossa amada Doutrina, marcharia o homem para o
túmulo - diremos melhor; para a Pátria da Verdade - sem idéia segura do que lhe
acontecerá após o choque biológico do desenlace.
Nenhuma noção da morte.
Nenhum conhecimento das leis admiráveis que rege a vida no plano espiritual.
Nenhuma informação sobre o que sucede a alma durante e depois da desencarnação.
Em suma, verdadeiro cego, ante o mundo grandioso que o aguarda; um indígena,
atônito, perplexo nos pórticos de estranha, quão maravilhosa civilização.
Essa ignorância, praticamente total, a respeito de tão importante problema, é a
triste herança de velhas e novas religiões mestras no ocultar e fantasiar a
realidade da vida além das fronteiras terrenas.
Religiões que procederam e procedem à maneira dos cronistas sociais modernas:
depois eu conto.
O Espiritismo é profundamente, intensamente realista, tanto nesse como em todos
os assuntos de interesse da alma eterna.
Identificando a criatura, sem subterfúgio de qualquer espécie, com os seus
postulados, fazendo-a absorver a parcela de verdade que ela suporta, torna-se
tranqüila ante a perspectiva da desencarnação.
Não cremos, nem anunciamos um Céu grandioso, adquirível à custa de promessas,
espórtulas, louvaninhas ou petitórios, nem um inferna tenebroso, eterno, de onde
jamais sairemos.
O nosso conceito a respeito da morte e de suas conseqüências, se alicerça no
Evangelho: "A cada um será dado de acordo com as suas obras".
Seria, naturalmente, leviandade afirmarmos que o Espiritismo já revelou, em toda
a sua extensão e plenitude, a vida no plano extrafísico.
Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem erguendo gradualmente, em doses
nem sempre homeopáticas, a cortina que separa o mundo físico do mundo
espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso, indagativo, sobre o belo
panorama da vida além da carne.
O espírita convicto não teme a morte, nem para si nem para os outros, mas
procurar cumprir, da melhor maneira possível, apesar de suas imperfeições,
imperfeições que não desconhece, os deveres que lhe cabem na erra, aguardando,
assim, confiante, a qualquer tempo, hora e lugar, o momento da Grande Passagem.
Não a considera pavorosa, lúgubre, terrificante, tampouco a define por suave e
milagrosa porta de redenção e felicidade.
O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há das vidas, mas sim
duas fases, que se prolongam, de uma só vida.
Se a Doutrina preleciona: "nascer, morre, renascer ainda, progredir
continuamente" Jesus notifica a Nicodemos: "necessário vos é nascer de novo".
A uma daquelas fases, dá-se o nome de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À
outra, dá-se o nome de Etapa Espiritual. Vai do túmulo ao berço.
A nossa alma é como o Sol, que se esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para,
no alvorecer de novo dia, retornar pelo mesmo caminho.
A vida, em si mesma, é sublime cadeia de experiências que se repetem, séculos e
mais séculos, até que obtenhamos a perfeição.
Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se harmonizam,
justapostos...
Pensando atuando dentro da conceituação, estranha para muitos, por enquanto,
porém muito lógica e racional para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte,
como fenômeno simplesmente transitivo, lhe reservará.
Sabe que o sistema de vida adotado aqui na Terra, o seu comportamento ético,
terá justa e equânime correspondência no mundo espiritual que é indefectivamente,
um prolongamento do terráqueo.
Boas sementes, bons frutos produzem.
Más sementes, amargos frutos produzem.
Seremos, aqui e em qualquer parte, o resultado de nós mesmos, de nossos atos,
pensamentos e palavras, sem embargo da generosas intercessões de amigos que se
nos anteciparam na Grande Viagem.
Proporcionando alegria e amparo, alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos
semelhantes, a Lei nos assegurará, no Plano Espiritual, instrução e alimento,
amparo e alegria.
Tais noções, hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais
cuidadoso, mais esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais
seguros, dentro da Vida - em suas duas faces - para que a Vida lhe sorria, agora
e sempre.
Evidentemente, sem subestimar, nem sobreestimar a morte, o espírita caminha,
luta, sofre, trabalha e evolui conscientemente, na direção do Infinito Bem,
felicidade, os renas cimentos, sucessivos a que se referiu Jesus, no diálogo com
Nicodemos.
Martins Peralva