Crônica de Natal
Desde a ascensão de Herodes, o Grande, que se fizera rei com o
apoio dos romanos, não se falava na Palestina senão no Salvador que viria
enfim...
Mais forte que Moisés, mais sábio que Salomão, mais suave que David, chegaria em
suntuoso carro de triunfo para estender sobre a Terra as leis do Povo Escolhido.
Por isso, judeus prestigiosos, descendentes das doze tribos, preparavam-lhe
oferendas em várias nações do mundo.
Velhas profecias eram lidas e comentadas, na Fenícia e na Síria, na Etiópia e no
Egito.
Dos confins do Mar Morto às terras de Abilena, tumultuavam notícias da suspirada
reforma...
E mãos hábeis preparavam com devotamento e carinho o advento do Redentor.
Castiçais de ouro e prata eram buriladas em Cesareia, tapetes primorosos eram
tecidos em Damasco, vasos finos eram importados de Roma, perfumes raros eram
trazidos de remotos rincões da Pérsia... Negociantes habituados à cobiça cediam
verdadeiras fortunas ao Templo de Jerusalém, após ouvirem as predições dos
sacerdotes, e filhos tostados do deserto vinham de longe trazer ao santuário da
raça a contribuição espontânea com que desejavam formar nas homenagens ao
Celeste Renovador.
Tudo era febre de expectação e ansiedade.
Palácios eram reconstruídos, pomares e vinhas surgiam cuidadosamente podados,
touros e carneiros, cabras e pombos eram tratados com esmero para o regozijo
esperado.
Entretanto, o Emissário Divino desce ao mundo na sombra espessa da noite.
Das torres e dos montes, hebreus inteligentes recolhem a grata notícia... Uma
estrela estranha rutila no firmamento.
O Enviado, porém, elege pequena manjedoura para seu berço de luz.
Milícias angelicais rejubilam-se em pleno céu...
Mas nem príncipes, nem doutores, nem sábios e nem poderosos da Terra lhe
assistem a consagração comovente e sublime.
São pastores humildes que se aproximam, estendendo-lhe os braços.
Camponeses amigos entregam-lhe gotas de leite alvo.
E porque as vozes do Céu se fazem ouvir, cristalinas e jubilosas, cantam eles
também...
-"Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os Homens!..."
Ali, na estrebaria singela, estão Ele e o povo...
E o povo com Ele inicia uma nova era...
É por isso que o Natal é a festa da bondade vitoriosa.
Lembrando o Rei Divino que desceu da Glória à Manjedoura, reparte com teu irmão
tua alegria e tua esperança, teu pão e tua veste.
Recorda que Ele, em sua divina magnificência, elegeu por primeiros amigos e
benfeitores aqueles que do mundo nada possuíam para dar, além da pobreza
ignorada e singela.
Não importa sejas, por enquanto, terno e generoso para com o próximo somente um
dia...
Pouco a pouco, aprenderás que o espírito do Natal deve reinar conosco em todas
as horas de nossa vida.
Então, serás o irmão abnegado e fiel de todos, porque, em cada manhã, ouvirás
uma voz do Céu a sussurrar-te, sutil:
-Jesus nasceu! Jesus nasceu!...
E o Mestre do Amor terá realmente nascido em teu coração para viver contigo
eternamente.
Irmão X