Viva o Momento Presente
Parece ser regra geral: vivemos muito mais sintonizados no
futuro ou passado, que no aqui, agora. Pelo menos é o natural da maioria das
pessoas. E assim, vamos adiando projetos importantes, palavras ditas ou gestos
que poderiam ser feitos no momento e cujo adiamento tende a conduzir para "um
tarde demais". Quando retroagimos ao ontem, geralmente é remoendo lamúrias ou
saudades de bons momentos. Quando nos voltamos para o futuro é desperdiçando
atitudes ou protelando tempo de felicidade.
Mas por que seria esta tendência de não viver o momento presente? Dizem que a
única certeza que se tem na vida é que morreremos um dia, mas a impressão é de
que ela acontecerá sempre num momento muito longínquo. Nunca estamos preparados
para esta viagem. Tanto que sempre nos surpreendemos com a notícia de que alguém
se foi para outra dimensão. É preciso nos educarmos não só para a vida como para
a morte. Observe bem o que relata esta história indiana:
"Certo dia, um homem abriu a gaveta do criado-mudo da esposa e pegou um pacote
embrulhado com papel de arroz. Dentro, uma lingerie finíssima. Ele pegou a peça
e acariciou a seda macia e a renda. A esposa havia comprado há cerca de dez
anos, numa viagem a Nova York e nunca a usou. Estava aguardando o momento certo,
a ocasião especial para poder usá-la.
- Bom, acho que a hora chegou.
O cidadão juntou a outros objetos que levaria para o cemitério. Sua esposa havia
morrido de repente. Ele olhou para o amigo e disse-lhe:
- Nunca guarde nada na espera de uma ocasião especial. Cada dia que vivemos é
uma ocasião especial.
"Ainda estou pensando nas palavras que ele me disse e como mudaram a minha vida.
Agora leio mais e dedico menos tempo na limpeza da casa. Sento na varanda e
admiro a paisagem, sem precisar reparar se tem ou não ervas daninhas no jardim.
Passo mais tempo em companhia de minha família e de meus amigos, e bem menos
tempo trabalhando para os outros. Me dei conta de que a vida é um conjunto de
experiências para serem apreciadas e não sobrevividas. Agora já não guardo quase
nada.
Uso copos de cristal todos os dias. Visto roupas novas para fazer compras no
supermercado, se estiver com vontade de vesti-las. Não guardo o melhor frasco de
perfume para as festas especiais, mas uso quando quero sentir sua fragrância. As
frases "um dia..." e "um dia destes...", estão desaparecendo do meu vocabulário,
se vale a pena ver e ouvir naquela hora. Não sei o que a esposa do meu amigo
teria feito se soubesse que não haveria "amanhã" que todos nós levamos tão pouco
a sério.
Se ela soubesse, talvez poderia ter falado com todos os familiares e amigos mais
próximos. Ou, talvez, poderia ter chamado os velhos amigos para se desculpar,
para fazer as pazes pelos mal-entendidos do passado.
Se essas pequenas coisas da vida não cumpridas que chateariam se soubesse que
tenho as horas contadas. Me chatearia pensar que deixei de abraçar os bons
amigos que 'um dia destes' reencontrariam. Me chatearia pensar que não escrevi
as cartas que queria porque a intenção de escrevê-las era 'num dia destes...' Me
chatearia e me deixaria ainda mais triste saber que deixei de dizer aos meus
irmãos e filhos, com suficiente freqüência, o quanto amo todos eles.
Agora procuro não retardar, esquecer ou conservar mais que poderia acrescentar
sorrisos de felicidade e alegria à minha vida. Cada dia que passa, digo a mim
mesmo que este é um dia muito especial. Cada dia, cada hora, cada minuto que
passa, é especial... Passe um pouco do seu tempo em solidão, abra os braços para
as mudanças, mas não se desfaça dos valores em que acredita. Lembrar que o
silêncio, às vezes, é a melhor resposta...Dê aos outros mais do que esperam".
Fátima Farias