A Seara Espiritual

Não dizeis vós que ainda há quatro meses para ceifa? Eu, porém, vós digo: Erguei os vossos olhos e contemplai esses campos, que estão brancos para a ceifa. Quem ceifa já está recebendo fruto para a vida eterna, afim de que aquele que semeia e o que ceifa, juntamente se regozijem. Pois nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia e o outro que ceifa. Eu vos enviei a colher o que não semeaste, outros trabalharam e vós entrastes no seu trabalho”. (Evangelho).
Jesus, o divino semeador da palavra de Deus, havia, pouco antes de externar os conceitos acima, lançado a semente da verdade no coração da mulher de Samaria. A samaritana achava-se naquele momento proclamando entre a sua gente o que havia aprendido com o Mestre sobre o palpitante problema que se prende a melhor maneira de render culto a Deus. Os samaritanos ouviam-na surpreendidos não só da nova doutrina que ela lhes transmitia como do entusiasmo e sinceridade com que falava. Estavam, pois, dispostos a receber o profeta Nazaré.
A hora de ceifar, portanto, o fruto da sementeira feita junto ao poço de Jacó estava soando. Eis, então, o Mestre a falar aos discípulos: Vós dizeis que faltam quatro meses para ceifa. Eu, porém vos digo que a seara está madura, pronta para a colheita. Tanto aquele que semeia como o que sega, juntamente se alegram, recebendo frutos para a vida eterna.
Na seara espiritual não há épocas distintas para semear e para colher. Ambas as operações realizam-se concomitantemente. Outro sim, nesse campo não importa que um lance a semente, nas lareiras e outro recolha as messes, confirmando assim, o adágio: Um é o que semeia, e outro o que colhe. No solo da espiritualidade, onde se faz a sementeira da luz, vigora a lei da solidariedade, sendo, “um por todos e todos por um”. A soberana justiça preside o labor dos seareiros. A obra não é pessoal, mas coletiva. Por isso, tanto se regozija o que ceifa como o que semeia, tanto o que começa como o que termina a tarefa. Nem o que o sulco dirigindo o arado; nem o que recolhe a messe madura julga-se maior no cumprir o mister que lhe foi confiado. Todos compreendem que a parte mais importante é dar vida as searas fazendo-as florescer e frutificar. Essa, a parte mais excelente, só Deus sabe e pode desempenhar.
Na cultura dos campos espirituais, não há lugar para rivalidades, ciúmes e zelos, por isso que os obreiros, em geral, já estão recebendo fruto para a vida eterna. Igualmente todos devem alegrar-se, cada qual no seu setor que lhe foi designado. A obra se ajusta e se entrosa em suas partes, registrando o esforço de cada um em beneficio de todos. As turmas de jornaleiros se sucedem, semeando e colhendo, em todas as épocas e estações da eternidade. O sol e a chuva, fecundando o solo, agem conjuntamente, sem solução de continuidade, de maneira que todo o rebento vinga e todo o fruto sazona.
Bendita seja a lavoura do Senhor, abastecendo os celeiros de trigo divino, que é o pão da vida!


Vinícius