Aborto: E Agora Pode?
”Que utilidade pode haver para um espírito a sua encarnação
num corpo que morre poucos dias após o nascimento? “O ser não tem alta
consciência de sua existência: a importância da morte é quase nula: como já o
dissemos, é muitas vezes uma prova para os pais.”
[Livro dos Espíritos, questão 347
A polêmica em torno do aborto volta às manchetes da mídia. O ministro do STF –
Supremo Tribunal Federal – Marco Aurélio de Mello, liberou para todo o Brasil,
no início de julho, a chamada ‘interrupção de gravidez’ quando houver laudo
atestando anencefalia, isto é, ausência de cérebro no feto. A decisão do
ministro é provisória – terá de ser julgada pelos outros 11 membros do STF – mas
está causando controvérsia nos meios jurídicos e religiosos, por tratar o aborto
como uma simples interrupção de gravidez.
O advogado Luís Carlos Martins Alves, da CNBB – Confederação Nacional dos Bispos
do Brasil – disse que “Um feto, ainda que anencéfalo, não perde dignidade nem o
direito de nascer.” A OAB – Ordem dos Advogados do Brasil – informou em nota à
imprensa que irá compor uma comissão de biodireito para estudar a decisão e que
divulga posição oficial até o final de 2004.
E a Doutrina Espírita, como se posicionaria a respeito?
Em O Livro dos Espíritos, questão 359, a espiritualidade diz ser “...preferível
que se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe”;
entretanto, a questão versa sobre uma ‘suposição de que a vida da mãe corra
perigo pela proximidade do parto’. Dessa forma, vale lembrar que o contexto em
que o ministro consentiu o aborto está ligado a problema ou defeito com o feto e
não com a mãe. Pela ótica científica a situação seria ainda mais comprometida:
em praticamente todos os casos de anencefalia, o feto morre horas ou dias após o
parto; isto quando não ocorre aborto espontâneo durante a gravidez. Após avaliar
essas análises, fica a pergunta: estamos diante de aborto consentido ou não?
Caberia a observação ao leitor da pergunta inicial do texto, onde os espíritos
apontam que, inúmeras vezes, a prova de um natimorto estaria voltada para os
pais; logo, se os pais, em não havendo risco mortal e comprovado para a
gestante, optarem pela interrupção, estarão caindo no crime do aborto.
A questão 748 de O Livro dos Espíritos que trata do ‘Assassínio’ esclarece que a
morte causada por legítima defesa não tira a responsabilidade do agredido de
fazer todo o possível para preservar a própria vida e também a do agressor. Isto
posto, dentro dos conceitos ensinados pela espiritualidade, como devemos
proceder perante uma situação desse tipo? Ante a precária visão que temos das
complexas tramas do plano espiritual, deveríamos seguir os ensinamentos
evangélicos do amor ao próximo e a nós mesmos, orando e vigiando para que Deus,
por meio de seus emissários espirituais, possa atuar da maneira que melhor
ofereça oportunidades de resgate e evolução para todos, pais e filhos pródigos,
ainda desviados da seara bendita.
Se formos olhar a geografia do aborto no planeta, o mundo atual estaria dividido
em três partes iguais: uma parte que autoriza sem restrições (34 paises), outra
parte que só autoriza em certos casos (37 paises) e uma terceira parte que não
autoriza em nenhuma situação (33 paises). Na América Latina só Cuba autoriza o
aborto. O Brasil, com a infeliz medida ministerial, é o segundo país
latino-americano a autorizar abortos por anencefalia. Para alívio dos mais
sensíveis ao sofrimento alheio, a Sociedade Médica de Ginecologia e Obstetrícia
informa que, caso não seja feito o aborto, e se o bebê vier a nascer será
incapaz de sentir dor, não ouvirá e nem enxergará, estando em total estado de
inconsciência. Interessante, não acha? ‘Coincidentemente’ essa situação nos faz
lembrar as passagens dos livros de Manoel Philomeno de Miranda e Ivonne do
Amaral Pereira, onde ocorre a oportunidade de alguns espíritos suicidas
refazerem as estruturas de seus corpos espirituais, renascendo em corpos
disformes ou com poucas horas ou dias de vida, apenas para reconstituição do
material orgânico. Contudo que foi exposto, reflitamos à bondade de Deus que faz
‘o sol nascer sobre bons e maus’.
Para finalizar, a estatística de anencefalia no Brasil diz que existem apenas 2
casos para cada mil nascimentos, e que esses números vêm caindo ainda mais com a
adição do ácido fólico – presente em farinhas, aveias e no espinafre – na dieta
brasileira.
Mais uma vez a necessária caridade se apresenta em três oportunidades: a da mãe
para com seu filho que poderá não vingar, a dos pais conscientes dos deveres
cristãos para com os desígnios da providência e a última, da parte de todos nós,
para com os legisladores do mundo atual, letrados perante a lei dos homens, mas
ainda semi-analfabetos ante a lei de Deus.
Luis Marcelo Prestes - O Clarim