Estaria a Humanidade Regredindo?
O jornal “Folha de S. Paulo”, na sua edição de 26 de abril de
2004, traz uma reportagem de primeira página que anuncia, nos EUA, uma multidão
fazendo marcha pelo aborto. Vamos a um pequeno trecho da mesma: “Entre 500 mil e
750 mil pessoas, segundo cálculo dos organizadores, participaram ontem em
Washington de uma marcha pró-aborto e em defesa dos direitos das mulheres.
Mulheres e adolescentes gritavam slogans a favor do aborto e contra o presidente
George W. Busch, que condena a prática.”
Diante de um fato como este, muitos que possuem conhecimento superficial da
Doutrina Espírita imediatamente formulam a dúvida se estaria havendo regressão
moral da evolução humana, fato esse que entraria em conflito com os ensinamentos
do Espiritismo.
Sabemos que na questão 783 de “O Livro dos Espíritos”, ao questionar Kardec se o
aperfeiçoamento da Humanidade segue sempre uma marcha progressiva e lenta,
recebe a resposta de que “Há o progresso regular e lento que resulta da força
das coisas. Mas, quando um povo não avança muito depressa, Deus lhe suscita, de
tempos em tempos, um abalo físico ou moral que o transforma.” Na mesma questão,
é extraordinária a colocação de Allan Kardec quando afirma: “O homem não
percebe, freqüentemente, nessas comoções, senão a desordem e a confusão
momentâneas (grifo nosso) que o atingem nos seus interesses materiais. Aquele
que eleva seu pensamento acima da personalidade, admira os desígnios da
Providência, que do mal faz surgir o bem. A tempestade e a agitação saneiam a
atmosfera depois de a ter perturbado.” Essas colocações de Kardec são plenamente
corroboradas com os ensinamentos dos Espíritos Superiores na questão 784 de “O
Livro dos Espíritos”, onde encontramos a seguinte explicação quando indagados se
a perversidade do homem não está fazendo-o marchar para trás: “Enganas-te.
Observa bem o conjunto e verás que ele avança, visto que compreende melhor o que
é o mal, e que cada dia corrige os abusos. É preciso o excesso do mal para fazer
compreender a necessidade do bem e das reformas.” Essa resposta dos Espíritos
encarregados da divulgação da terceira revelação já era alerta feito pelo
próprio Cristo quando orientava que o escândalo era necessário, mas ai daqueles
por quem esse escândalo viesse!
O grande equívoco que muitas pessoas cometem é analisar todo o desequilíbrio do
momento presente que inundam jornais e canais de televisão que faturam mais com
as notícias de assassinatos, estupros, seqüestro, guerras, genocídio, corrupção,
impunidade, etc., do que com a difusão dos acontecimentos que envolvem o
progresso moral. Evidentemente, esse caminhar moral do ser humano é mais lento
do que o intelectual, o que não implica na sua regressão, como sugere a
aparência analisando os fatos no estreito limite do berço ao túmulo. As pessoas
presentes na passeata que reivindicava a legalização do aborto sofrerão na
própria carne em reencarnações futuras a semeadura deste crime covarde e
injustificável perante as Leis Maiores da vida, principalmente nos tempos
atuais, onde tanto o homem como a mulher recebem esclarecimentos abundantes de
como evitar uma gravidez e possuem acesso fácil a diversos tipos de métodos
anticoncepcionais. Talvez retornem em outras reencarnações e sofram a frustração
de não terem filhos, embora desejando-os ardentemente; talvez regressem ao mundo
material e sofram enfermidades que envolvam seu órgãos genésicos outrora
violentados pelo crime do aborto; poderão conhecer em si mesmos a aflição do
processo abortivo quando ainda dentro da vida uterina em seus processos de
gestação e vai por aí a fora, nunca nos esquecendo que a primeira opção da
misericórdia Divina é resgate pelo amor! Não estamos querendo fazer apologia da
lei de Talião, mas onde o amor não consegue convencer a dor tem argumentos
irrefutáveis.
Para toda a dor originada nos desequilíbrios da moral a medicação está na
questão 625 de “O Livro dos Espíritos” quando Kardec indaga qual o tipo mais
perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo, obtendo a
resposta extremamente objetiva: Jesus! As colocações do Codificador são
necessárias serem citadas: “Jesus é para o homem o modelo de perfeição moral que
a Humanidade pode pretender sobre a Terra. Deus no-lo oferece como o mais
perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a mais pura expressão da sua lei,
porque ele estava animado de espírito divino e foi o ser mais puro que apareceu
sobre a Terra.”
A propósito, quantas pessoas entre as 500 a 750 mil pessoas da passeata que
reivindicava o direito da mulher promover o crime do aborto, dizem-se cristãs e
freqüentam algum templo religioso do Cristianismo?...
A bem da justiça e da realidade sobre o crime do aborto, deixamos claro que
jamais estamos excluindo a responsabilidade masculina que, muitas vezes, é a
maior responsável pelo ato desesperado da mulher que não recebe o apoio
necessário na figura de seu companheiro, que responderá perante a Lei na medida
de seu envolvimento.
Ricardo Orestes Forni - RIE