A Palavra da Inocência
Quase sempre acreditamos que as crianças não entendem o que
acontece ao seu redor. Tomamos decisões, inclusive a respeito de suas próprias
vidas, sem nos importar com seus sentimentos.
Assim acontece nas separações conjugais, em que se decide com quem ficarão os
filhos. Assim é quando se decide mudar de residência e até mesmo quando se opta
por transferi-los de uma para outra escola.
No entanto, as crianças estão atentas e percebem os acontecimentos muito mais do
que possamos imaginar.
A jornalista Xiran que, apesar do regime de opressão e abandono que viveu na
China, manteve um programa de rádio, em nanquim, conta uma história singular, em
seu livro: As boas mulheres da China.
Havia uma jovem que se casou com um rapaz muito culto e de projeção política na
china. Durante três anos, pelo seu status, ele foi estudar em Moscou.
Ela viveu anos de felicidade ao seu lado. Um casamento que foi abençoado com
dois filhos. “era uma mulher de sorte”, comentava-se.
Então, exatamente no momento em que o casal se alegrava com o nascimento do
segundo filho, o marido teve um ataque cardíaco e morreu, repentinamente.
No final do ano seguinte, o filho mais novo morreu de escarlatina.
Com o sofrimento causado pela morte do marido e do filho, ela perdeu a coragem
de viver.
Um dia, pegou o filho que restava e seguiu para a margem do rio Yangtsé. Seu
intuito era se unir ao marido e ao bebê na outra vida.
Parada à beira do rio, ela se preparava para se despedir da vida, quando o filho
perguntou, inocentemente: “nós vamos ver o papai?”
Ela levou um choque. Como é que uma criança de 5 anos podia saber o que ela
pretendia fazer?
E perguntou: “o que é que você acha?”
Ele respondeu: “é claro que vamos ver o papai! Mas eu não trouxe o meu carrinho
de brinquedo para mostrar para ele!”
Ela começou a chorar. Nada mais perguntou. Deu-se conta de que ele sabia muito
bem o que ela pretendia.
Compreendia que o pai não estava no mesmo mundo que eles, embora não fizesse uma
distinção muito clara entre a vida e a morte.
As lágrimas reavivaram nela o instinto materno e o senso de dever.
Tomou o filho no colo e, deixando a correnteza do rio levar a sua fraqueza,
retornou para sua casa.
A mensagem de suicida que tinha escrito foi destruída.
Enquanto fazia o caminho de volta ao lar, o menino tornou a perguntar: “e então,
não vamos ver o papai?”
Procurando engolir o pranto, ela respondeu: “o papai está muito longe. Você é
pequeno demais para ir até lá. A mamãe vai ajudá-lo a crescer, para que você
possa levar para ele mais coisas. E coisas muito melhores.”
Depois disso, ela fez tudo o que uma mãe sozinha pode fazer para dar ao filho o
melhor.
As crianças não são tolas. E muito mais do que possamos imaginar permanecem
atentas, em especial a tudo que lhes diga respeito.
Percebem os desentendimentos conjugais, as dificuldades domésticas, a ponto de
ficar enfermas.
Por tudo isso, preste mais atenção ao seu filho. E, sobretudo, fale com ele
sobre dificuldades e sobre as soluções possíveis.
Não o deixe crescer ansioso e triste. Ajude-o a viver no mundo, seguro e firme.
Momento Espírita