Porvir Inexorável
O indivíduo senciente deve manter como objetivo primacial da
existência física a conquista dos valores eternos. Não obstante a consideração
pelas conquistas contemporâneas, torna-se-lhe indispensável a compreensão da
transitoriedade desses recursos e realizações.
O acúmulo de riquezas materiais proporciona-lhe conforto, não porém, felicidade.
Esta é decorrência natural do auto-encontro responsável, graças ao qual se
entrega à conquista de diferentes bens, por enquanto, desdenhados.
Somente através da reencarnação, compreendida e aplicada à vivência lúcida, é
que poderá considerar o vazio da existência corporal, período este para a
aprendizagem iluminativa e libertadora.
Assim considerada, a existência material deixa de ser uma sucessão de
sofrimentos e incertezas para proporcionar os investimentos duradouros, que se
transferem de uma para outra forma, no corpo ou além dele, porquanto, em
qualquer circunstância, ninguém e apresentará fora da Vida.
A vida física se caracteriza pela busca do prazer, no entanto, este sempre se
expressa acompanhado do sofrimento. Isto, porque, o próprio prazer gera o medo
da sua descontinuidade, o que se transforma em aflição.
A manutenção do prazer estimula o egoísmo, a ambição, a arbitrariedade e seus
sequazes criminosos.
Cultivando com acendrado interesse a ignorância, o homem distrai-se no
relacionamento com amigos; armazena jóias e dinheiro, víveres e trajes;
multiplica habitações e veículos, embora o seu corpo somente os possa usar um a
um. Demais, advindo a morte, que é inevitável, vê-se constrangido a deixar tudo,
levando apenas a si mesmo e com ele os atos impressos nos painéis da
consciência.
Ninguém te condena por seres previdente; porém, a tua consciência te reprocha a
ganância.
Pessoa alguma te fiscaliza a conduta gozadora; mas, a tua consciência te diz que
isto não te basta.
Deus não te proíbe fruir dos bens, nem da vida; todavia, tua consciência, apesar
de anestesiada, vez que outra desperta, assinalando a tua ilusão...
Descoberta a causa do sofrimento do senciente, que é a ignorância, o seu
antídoto é, de logo, a sabedoria.
Clareia-te, assim, com as luzes da reencarnação e saberás conduzir a vida sem
apego, sem desconsideração, descobrindo-lhe o vazio do mediato e aplicando parte
do teu tempo na preparação do teu porvir eterno, que te espreita, e para o qual
marchas inexoravelmente, quer o queiras ou não.
Joanna de Ângelis