Auto de Fé em Barcelona
No dia 9 de outubro de 2001, comemorado 140 anos do Auto de Fé
de Barcelona. Não estranhem a palavra comemoramos, pois Allan Kardec afirmou que
deveria ser um dia de festas para os espíritas, e que nunca fosse esquecido,
porque a intolerância religiosa, querendo sufocar o Espiritismo, apenas
destacou-o ante o mundo, pois, a inquisição, execrada pelos homens, dava mais um
sinal da sua fraqueza, agitando a cauda da idade média, nos estertores da morte
definitiva.
Com certeza já não era admissível queimar homens, pois haveria muitos protestos,
por isso, tentaram queimar idéias, sem saber que idéias e ideais não se queimam.
Podem ser abafados, recalcados, engessados, mas ressurgem sempre.
O Auto de Fé de Barcelona foi a consagração do Espiritismo. Literalmente o seu
batismo de fogo. Mas a Espanha levantou-se como um só homem, para saber o que
era essa doutrina que aterrorizava o clero. A comissão episcopal foi vaiada pelo
povo, e assim que a guarda armada se retirou da praça do Quemadero, onde muitos
mártires tiveram seus corpos incinerados no intuito de salvar as suas almas, o
povo simples recolheu as cinzas dos livros e fragmentos que não foram consumidos
pelas chamas, e levaram para as suas casas.
Um exemplar de O Livro dos Espíritos, carbonizado pela metade, foi enviado a
Allan Kardec, que o guardou como uma doce lembrança. A violência clerical e o
servilismo do Estado, consagrou também o livreiro “Lachatre”, hoje justamente
homenageado por espíritas brasileiros, que fundaram uma editora, que honra o
Espiritismo, com o seu nome.
Muitas outras perseguições viriam. Muitas lágrimas ainda seriam derramadas. É
por isso que o movimento espírita tem que respirar liberdade, tem que ser
compreensivo, mas não conivente, porque venceu a ditadura de Napoleão 3º - a
força esmagadora da perseguição religiosa, o orgulho acadêmico das ciências, o
esnobismo filosófico, para firmar-se como doutrina consoladora e iluminadora.
Porém, do que tinham medo as igrejas, os acadêmicos, os políticos e os
filósofos? Qual era o perigo representado pela Doutrina Espírita? Certamente é
pelo fato de nos seus íntimos desgostos, nas tristezas, no desânimo, nas
lágrimas abundantes que lavam as nossas faces, encontramos o consolo, a
esperança e o lenço que enxuga o pranto.
Talvez porque, quando somos desprezados, injuriados, maltratados, nos viram as
costas e se negam a apertar nossa mão, encontramos no Espiritismo o apoio, a luz
para a compreensão que nos dá coragem e fé.
Com certeza, temem o Espiritismo, porque nos momentos em que o sofrimento se faz
pesado e gememos ante o látego das dores superlativas, nele encontramos forças e
superamos as adversidades.
Incomoda, talvez, os que se julgam poderosos, o refúgio que encontramos quando a
sorte se nos faz megera e afundamos na pobreza, perdemos os bens materiais, a
família, os amigos, mas encontramos guarida na compreensão desta Doutrina
maravilhosa.
Esta é a Doutrina da Caridade que salva, da fé racional, do intercâmbio com os
que habitam o mundo dos espíritos, da iluminação pelo conhecimento, mas
sobretudo tem que ser, e é, com certeza, a doutrina do AMOR.
Amilcar Del Chiaro Filho