A Nova Luta
– A senhora julga que devemos procurar a conciliação com qualquer espécie de
inimigos?
– Sim – respondeu a interpelada sem hesitar.
– E quando os adversários são de tal modo inconvenientes que a simples
aproximação deles nos causa angústia?
Antonina compreendeu que algo doloroso vinha à tona daquela consciência que lhe
ouvira a dissertação, ocultando-se, e obtemperou:
– Entendo que há sofrimentos morais quase intoleráveis, entretanto a oração é o
remédio eficaz de nossas moléstias íntimas. Se temos a infelicidade de possuir
inimigos, cuja presença nos perturba, é importante recorrer à prece, rogando a
Deus nos conceda forças para que o desequilíbrio desapareça, porque então um
caminho de reajuste surgirá para nossa alma. Todos necessitamos da alheia
tolerância em determinados aspectos de nossa vida.
Os olhos de Mário cintilaram.
– E quando o ódio nos avassala, ainda mesmo quando não desejemos? – inquiriu,
preocupado.
– Não há ódio que resista aos dissolventes da compreensão e da boa vontade. Quem
procura conhecer a si mesmo, desculpa facilmente...
Silva empalidecera.
Antonina percebeu que o tema lhe fustigava o coração e, amparada por nosso
instrutor que a enlaçava, paternal, rematou considerando:
– Um homem, porém, na sua tarefa, é um missionário do amor fraterno. Quem
socorre os doentes, penetra a natureza humana e entra na posse da grande
compaixão. As mãos que curam não podem ferir...
Trecho do livro: Entre a Terra e o Céu, capítulo 31.
André Luiz